‘Tô triste. Globo está tirando os mestres’, diz Francisco José após demissão

“Eu estou triste, claro, foram 46 anos na emissora. Não posso fingir e dizer para você que estou feliz, porque não estou. Se fosse para sair feliz eu teria saído antes, pedido [para sair]”, diz o jornalista Francisco José à coluna Painel SA, da Folha Online.

Nesta segunda (29), a Globo comunicou que o cearense e o colega Renato Machado estavam se desligando da emissora, de comum acordo. Nos últimos meses, a Globo adotou uma política de renovação no jornalismo e tem demitido veteranos como Alberto Gaspar, Ari Peixoto, José Hamilton Ribeiro, Eduardo Faustini, Isabela Assumpção e Linhares Júnior.

“Há dois, três anos o Ali [Kamel, diretor de jornalismo da Globo] me disse que a empresa estava com a política de renovação do quadro de funcionários. Eu sei que nós mais antigos temos os salários mais altos”, diz. “Acho triste essa política de renovação, muitos dos que estão saindo são mestres do telejornalismo.”

O repórter de 77 anos, que ficava baseado no Recife e foi o primeiro jornalista nordestino a aparecer no “Jornal Nacional”, diz que seu desligamento já estava previsto e que a emissora lhe ofereceu um acordo de indenização irrecusável. “O acordo que é feito entre as partes é tão vantajoso que a gente não tem como dizer não”, afirma.

Francisco José foi finalista de um prêmio Emmy internacional, o mais importante da TV, com uma reportagem sobre a rotina e os rituais dos índios Enawenê-Nawê da Amazônia.

O jornalista diz que não está magoado e que só tem a agradecer à emissora onde trabalhou por 46 anos. “Não foi um processo litigioso. Não posso falar de uma emissora que me deu tudo”, afirma. “Mas estou triste, claro.”

Ele conta que não esperava receber tanto carinho com a notícia de sua demissão. “Desde manhã meu telefone não para. Estou surpreso com o carinho, muitos colegas, muitas pessoas estão me ligando e mandando mensagens para falar que estão tristes”, diz.

Sua última aparição na tela da Globo, conta, acontecerá meses após seu desligamento, em março de 2022, quando vai ao ar o 103º “Globo Repórter” com reportagem que leva sua assinatura.

Em comunicado enviado aos jornalistas do Grupo Globo, Ali Kamel enumerou os feitos de Francisco José. “Eu agradeço ao Chico José, cearense do Crato, cidadão de Pernambuco, jornalista do Brasil, por todo o legado que nos deixa e por tudo o que fez pelo nosso jornalismo. Em meu nome, no nome da Globo e no de seus colegas”, disse.

FONTE: Painel SA | FOTO: Marcus Leoni / Folhapress