Em “Transformação digital, tecnologia e análise de dados: o papel do advogado 5.0 na sociedade atual”, professor Janio Gustavo Barbosa diz que atualidade requer sujeitos pluridimensionais, capazes de tomar decisões prevendo maneiras globais e futuras de beneficiamento do seu trabalho e de seus resultados.

Janio Gustavo Barbosa, professor externo da especialização em Conciliação e Mediação vinculado ao Departamento de Direito da UFRN.

É pacífico que a sociedade Moderna é global, se estabelece em rede e o seu poder de compartilhamento oferta potência para lidar com demandas perpétuas caracterizadas por serem extremamente dinâmicas. Para isso, essa sociedade elegeu o registro digital, a virtualização dos sujeitos e os rastros tecnológicos como a grande fonte de riqueza e capital moderno.

Para onde vamos, numa sociedade que não tem limites nas produções de dados, em computadores dramaticamente mais potentes e com arquiteturas absolutamente impensáveis há pouco mais de 5 anos, num contexto de internet 5g – e quem sabe 6g – que remodela a capacidade das pessoas, coisas, cidades e governos conectarem-se, reformularem-se e produzirem modelos sociais que são tão fluidos, que os nossos sistemas educacionais e nossas relações de trabalhos estão a cada dia mais desatualizadas, desinteressantes, descontextualizadas e inapropriadas para o modelo de sociedade que estamos inseridos?

Dados do Banco Mundial, apontam para um declínio da indústria em países como Portugal, Espanha e Cingapura é de mais de 10 % desde 1991 pulverizando o modelo industrial do século XX e apontando para a premissa de novos profissionais com habilidades gestadas para atender a realidade imediata de uma sociedade que está em transição e precisa, urgentemente, realizar sua transformação digital.

As mudanças proporcionadas pela tecnologia, alteraram o contexto como nos relacionamos enquanto sociedade e, portanto, os desafios, ao fim e ao cabo, são de compreender quais as estruturas contextuais desta nova sociedade que ajudamos a produzir, que dela consumimos e modelamos, mas não a compreendemos.

Neste quesito o papel dos cientistas sociais é crucial, porque as tecnologias exponenciais trabalham para ressaltar o humano, o criativo, o estratégico, o movimento em detrimento da repetição e da cristalização da sociedade do século XX, que demorou para compreender os potenciais basais que desenvolveu. Ou seja, a alta tecnologia tende a inserir o humano e não descarta-lo e esse movimento é tão impressionantemente desta geração que, o conflito da sociedade do celular com a geração anterior é que os conceitos de isolamento, diversão, partilha, encontro e separação ocorre em outro nível apartado da compreensão comum.

Se os cientistas sociais apontarão para a nossa essência ética, moral, econômica, social e legal dentro deste novo modelo que se avizinha, a pergunta base que resta para além das estruturas sociais que temos é: o que restará dos trabalhadores que precisando refletir acerca destes movimentos? Resiste a eles como um movimento de recusa impossível pela realidade inerente ou o abraça exigindo novas instituições sociais como educação, trabalho e cultura para uma pluralidade de ser humanos hiperconectados?

Assim sendo, pensar no Direito, na advocacia e em seus operadores, refletir sobre o seu lugar nessa estrutura cibernética já passou da hora. O problema é que os Cursos de graduação ainda focalizam a capacidade de busca e recuperação de leis, jurisprudências e suas conexões temporais, o domínio das leis e o conhecimento do devido processo legal ou sobre suas vertentes. Os concursos, exigem profissionais do século passado para lidar com problemas da atualidade e ainda que recém-formados, recém empregados, ou recém- empossados, são atualmente, facilmente substituídas por algoritmos capazes de em segundos, montar o melhor cenário de jurisprudência, dos últimos 50 anos da matéria requerida, apontando inclusive, qual a implicação estatística de usar esse tipo de tese com determinado magistrado. O que sobra deste operador? O que lhe é próprio ? Para onde ele migra para não ter o seu labor extinto? Para o dado, a ciência, e interdisciplinaridade.

A atualidade requer sujeitos pluridimensionais, abrangentes e com grande capacidade analítica, capaz de tomar decisões prevendo maneiras globais e futuras de beneficiamento do seu trabalho e de seus resultados. Eis que os dados são os registros, a matéria prima da experimentação desse novo profissional, que trabalha com banco de dados, molda simuladores de inteligência artificial e aninha valor, não ao seu serviço, mas aos recursos estratégicos que é capaz de desenvolver.

Modelos sociais são fluidos, mas são reais. No Brasil, uma sociedade que passa em média 9 horas e 17 minutos conectada, e o mundo com uma penetração de internet na ordem de 59% das pessoas, produzem 2,5 quintilhões de bytes por dia aprontando modelos inteligentes, seguros, totalmente digitais das quais a função do ciberespaço é polpar o tempo humano. A tecnologia favorece o tempo!

A análise de dados é o conhecimento produtivo dessa sociedade 5.0 em que os espaços e produções físicas são transformados em grandes volumes de dados que acumulados, ofertam modelos de negócios para inteligências artificiais que, por sua vez, transformam esses modelos em conhecimento adicionando novos valores e instruindo novos sistemas e novos aparatos tecnológicos.

Portanto, a valorização do dado está na ciência, na análise. O bom profissional do direito, está predisposto a operar o dado por comparação, necessitando de modelos que ofertem espaços simulados para tomarem melhores decisões. A potência qualitativa com que esse profissional representará seus clientes, com que os magistrados analisarão os casos e tomarão suas decisões, tenderá a ser potencialmente muito melhores, mais rápidas e eficazes uma vez que o arcabouço analítico será imperativo. Buscas, recuperação, teses, conceitos para construção de uma petição, regem a ordem dos trabalhos manuais, são apartados da criatividade, de inovação e sendo assim, do não humano, portanto, realizados por máquina.

Os dados, sua ciência e análise, encontra colo no profissional criativo, experimentado, plural, interdisciplinar e multidimensional do presente. Suas habilidades são intangíveis e não há mapa que defina suas zonas de atuação. Os dados confortam o desafio de pensar que foram humanos, pessoas, elementos que produziram e/ou coletaram, e deram cor a esse mundo, e que permite devolver ao advogado 5.0 não a venda de um serviço, mas a entrega de um valor, não mais como atuador da lei, mas analista do inesperado, socialmente influente e ciberneticamente dominante. O desafio está posto, em daqui há menos de 5 anos seremos expectadores destas mudanças. Preparados?!

Janio Gustavo Barbosa é doutorando do Instituto de Comunicação e Tecnologia em Saúde (ICICT) no programa de Informação e Comunicação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz / RJ (ICICT/FIOCRUZ). Realiza pesquisas na área de Data Science e Data Analytics e, torno da judicialização na área da saúde e Data Mining em Bancos de dados da área jurídica e da saúde. Estudou Gestão de TI na UNIP. É bacharel / licenciado em História pela UFRN. Mestrado em História / Arquitetura pela UFRN, com tema na área de representação e poder ligada a cyber-espaços, o que motivou a pesquisa e dedicação na área de tecnologia educacional, voltada para ambientes virtuais de aprendizagem. Atuou como Designer instrucional do setor de formação e planejamento estratégico da SEDIS – UFRN sendo pesquisador e membro do Laboratório de Inovação tecnológica em Saúde (LAIS / UFRN) atuando como gerente de desenvolvimento de Ambientes Virtuais e prevendo modelos de negócios tanto no LAIS quanto na SEDIS. Desenvolveu projetos na área de tecnologia, serviços para educação eletrônica e sistemas de informação dedicado ao mercado produtivo e empreendedorismo estruturando o setor de PO do LAIS. Vem se dedicando nos últimos anos em pesquisas envolvidas com Data Mining, Text mining e Ciência de Dados, centrando-se nos requisitos de arquitetura de informação para tradução de aprendizagem de máquinas e modelos de negócios aplicáveis ao mercado, sobretudo, na área da saúde, focando na ideia de transformação digital. Atou também em pesquisas na área de educação, tecnologia e saúde, particularmente sobre, Ambientes virtuais de aprendizagem, usabilidade, ergonomia e re-usabilidade de ambientes interativos para saúde ganhando vários prêmios de inovação nesta área. Foi avaliador do material impresso dos cursos técnicos vinculado à SEDIS/UFRN (Secretaria de Educação a Distância), oferecidos pelo MEC através do e-Tec Brasil (Escola Técnica Aberta do Brasil). Foi professor / tutor convidado /externo da especialização dos Sistemas de Saúde pelo Departamento de Engenharia Biomédica / UFRN. Integrou como pesquisador do LAIS, o grupo de estudo integrado para internacionalização do laboratório. Tem vasta experiência como docente desde os anos iniciais até programas de pós-graduação na rede pública e privada. É professor externo da especialização em Conciliação e Mediação vinculado ao Departamento de Direito da UFRN.