Isso significa que a paciente Esperança não passou por nenhum tratamento experimental e nem pelo transplante de medula óssea
Na busca por uma cura das infecções causadas pelo vírus da Aids, alguns casos extremamente raros chamam a atenção. Neste terça-feira (16), foi divulgado o caso da “paciente Esperança” — o nome é uma homenagem à cidade da Argentina, onde a mulher mora — que é a segunda pessoa no mundo a se “curar” do HIV de forma espontânea. A informação é do Canaltech.
Isso significa que a paciente Esperança não passou por nenhum tratamento experimental e nem pelo transplante de medula óssea, mas conseguiu controlar a infecção no seu organismo, através de seu sistema imunológico. O estudo sobre o caso foi publicado na revista científica Annals of Internal Medicine.
Controladores de elite do HIV
A paciente Esperança foi diagnosticada pela primeira vez com o HIV-1 em 2013. Passados oito anos de acompanhamento e de testes, parece não haver sinal de infecção viral ativa em seu corpo, nem qualquer evidência de doença associada ao vírus, segundo os pesquisadores que acompanham o caso. Tanto a paciente Esperança quanto a Paciente São Francisco — a outra pessoa a se curar espontaneamente do HIV, conhecida como Loreen Willenber — são consideradas controladores de elite do vírus da Aids.
Em outras palavras, elas têm sistemas imunológicos capazes de suprimir o HIV sem a necessidade de medicamentos. Embora ainda tenham reservatórios virais que podem produzir mais vírus HIV, um tipo específico de célula T do sistema imunológico mantém o vírus suprimido, sem a necessidade de um apoio externo.
Além disso, os autores do estudo identificaram que ambas podem ter eliminado também o reservatório de HIV do corpo, o que os cientistas chamam de cura esterilizante. “Essas descobertas, especialmente com a identificação de um segundo caso, indicam que pode haver um caminho acionável para uma cura esterilizante para pessoas que não são capazes de fazer isso por conta própria”, pondera um dos autores do estudo, o cientista Xu G. Yu.
Se os mecanismos imunológicos responsáveis por essa resposta puderem ser compreendidos pelos pesquisadores, eles poderão desenvolver tratamentos que ensinem o sistema imunológico de outras pessoas a imitar essas respostas em casos de infecção pelo HIV. Agora, mais estudos são necessários.
“Cura” através do transplante de medula
Na ainda breve trajetória de curas do HIV, outras duas estratégias — vale ressaltar, de quase impossível reprodução — foram aplicadas com sucesso para o mesmo fim. Também morador da Califórnia, Timothy Ray Brown foi tratado na cidade alemã de Berlim e se tornou a primeira pessoa a ser considerada curada do HIV, em 2007.
Para isso, o homem passou por um transplante de medula óssea, enquanto se tratava de um caso de leucemia, e como resultado do tratamento se viu livre do vírus. Com o sucesso do tratamento, o homem se tronou mundialmente conhecido como o “paciente Berlim”.
Além de Esperança, outros pacientes já se “curaram” do HIV, mas evento é extremamente raro (Imagem: Reprodução/Ave Calvar Martinez/Pexels)
Mais de uma década depois, um outro paciente, Adam Castillejo — conhecido como o “paciente Londres” —, foi declarado curado do HIV, no ano de 2019, após um transplante de medula óssea para tratar de um linfoma, que é um outro tipo de câncer. Em ambos os casos, a cura se deu a partir de procedimentos arriscados e bastante invasivos para qualquer pessoa, ou seja, não poderiam ser replicados em massa.
Relatos abrem novos caminhos para a ciência
Embora a notícia da paciente Esperança seja incrível para a ciência e indique possíveis caminhos para se solucionar os mistérios do corpo humano, o feito individual está longe de alterar ou promover mudanças no tratamento contra o HIV. A cura das duas mulheres ainda é mais como uma prova de conceito da cura do que qualquer outra coisa.
O desafio será transformar o comportamento quase único do seu sistema imunológico em uma terapia segura e eficaz para outros pacientes que vivem com o HIV. Além disso, o caso deverá ser acompanhado por anos, porque, eventualmente, o vírus pode voltar a se manifestar no corpo da ex-paciente, já que esse processo não é conhecido, por completo, pela ciência.
FONTE: Canaltech | FOTO: Reprodução/Anna Shvets/ Pexels)