No sentido contrário da tendência mundial, a taxa de suicídio a cada 100 mil habitantes aumentou 7% no Brasil em seis anos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre 2010 e 2016, o índice global de registro de mortes autoprovocadas apresentou queda de 9,8% comparativamente. Diante desse cenário, a jovem desenvolvedora de aplicativos Aline Bezzoco, 29 anos, percebeu que falar sobre o tema era a melhor opção e criou, há dois anos, o “Tá Tudo bem?”. A informação está no portal da revista Época.

A ideia inicial do projeto era desmistificar o tema e oferecer informação segura para quem precisa. “Ouvindo comentários de pessoas próximas, vi que ainda existe muito preconceito e desinformação. Fiquei triste e chocada ao ouvir que depressão seria falta do que fazer ou falta de Deus no coração”, lamentou Aline, Após alguns dias de desenvolvimento, novas ideias surgiram e o app se tornou uma ferramenta de acompanhamento e prevenção ao suicídio. Durante o processo, a desenvolvedora foi acompanhada pela psicóloga Wanessa Lisbôa que ajudou na revisão do conteúdo e no aperfeiçoamento das funcionalidades.

Dentro do aplicativo o usuário pode encontrar diversas ferramentas de auxílio psicológico. Além dos textos informativos, é possível ativar notificações com mensagens de apoio emocional, fazer exercícios de respiração e meditação para reduzir a ansiedade, e preencher uma lista de razões para viver, o que, segundo Aline, pode ser muito útil em momentos de crise, quando a pessoa não consegue pensar em aspectos positivos.

Também é possível preencher um “Diário de Gratidão”, criado com base em escutas terapêuticas, para que se escreva diariamente todos os acontecimentos bons daquele dia. Para situações de emergência, o aplicativo conta com uma sessão intitulada “Preciso de ajuda”. Quando o botão é acionado, a ferramenta liga diretamente para o Centro de Valorização da Vida (CVV), que conta com profissionais 24 horas para conversar em sigilo e anonimato com quem precisa de ajuda.

A partir de comentários e publicações sobre o “Tá Tudo bem?”, Aline avalia que a grande parte dos usuários são mulheres na faixa etária entre 17 e 24 anos. Apesar de as mulheres serem maioria, a desenvolvedora afirmou que os homens representam uma parcela crescente dos usuários. “O feedback das pessoas tem sido muito interessante. Muitos homens têm me procurado para agradecer e é uma surpresa porque saúde mental é um tabu ainda maior entre eles. A quantidade de suicídio entre homens tem crescido bastante, talvez seja explicado por isso”.

O mesmo estudo da OMS também revelou que a diferença no número de casos por sexo é expressiva. Os homens são os que mais morrem por causas autoprovocadas: foram 2,8 a cada 100 mil entre as mulheres e 9,7 a cada 100 mil entre os homens em 2016.

Há dois anos de funcionamento, o aplicativo “Tá Tudo bem?” é gratuito, já foi baixado mais de 50 mil vezes e tem uma média de 9 mil usuários ativos atualmente. Ele está disponível apenas para celulares com sistema Android, mas a versão para IOS já está em desenvolvimento. Segundo Aline, o próximo passo é internacionalizar a aplicação, disponibilizando outros idiomas e conectando o app à serviços semelhantes ao CVV em outros países.

FONTE: Época | Imagem: Gerd Altmann por Pixabay

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