Estimativa é que sistema judiciário custe aos cofres públicos R$ 100,2 bi por ano; investir em mediação é forma de evitar acúmulo de processos

Cem bilhões e duzentos milhões reais. É esse o valor que o sistema judiciário custa aos cofres públicos anualmente. O valor inclui salários, custos de processos, investimentos em tecnologia e informática, entre outras despesas para deixar tudo de pé.

A folha de pagamento, claro, é a que mais pesa. Um juiz custa em média R$ 50,9 mil por mês, incluindo na conta gastos com remuneração, despesas com viagens, benefícios, previdência e outros gastos, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). E não é novidade para ninguém que, mesmo com tudo isso, os processos demoram anos para terminar. A informação está no portal Valor Investe.

Os processos trabalhistas se arrastam por seis anos em média, enquanto a justiça especial civil leva 19 meses para julgar um caso por completo. No início de setembro, terminou o processo mais longo de toda a história do Brasil, iniciado pela Princesa Isabel há 125 anos, e que contestava a retirada da posse do Palácio da Guanabara no Rio de Janeiro da família real quando a monarquia caiu!

Foi pensando em como driblar a necessidade de entrar na Justiça que duas empreendedoras criaram a Mediação Online (MOL), uma startup que, como o próprio nome diz, faz mediações de conflitos pela internet. Durante a pandemia, o número de clientes, em geral grandes empresas, buscando seus serviços surpreendentemente disparou: a startup saltou de sete companhias atendidas em março para 39 agora em setembro, um crescimento de 450%. O total de funcionários também aumentou – eram 24 em março e hoje são 52.

O fato de tudo ter travado nas vias judiciais no início do isolamento social fez com que muitos percebessem caminhos alternativos, como a mediação e a renegociação, para resolver as divergências.

“Não aprendemos e nem fomos incentivados a resolver nossos próprios problemas. Mas ninguém melhor do que a gente para resolvê-los porque os conhecemos. Na mediação, nós tentamos construir pontes, preservar relacionamentos e construir um acordo em que as pessoas sejam parte efetiva da solução”, explica Camilla Lopes, cofundadora da MOL.

A mediação e a negociação fazem parte de uma área do direito que estuda métodos alternativos de resolução de conflito, ou seja, como dá para se acertar sem ter que ir para a Justiça.

“Temos no Brasil 77 milhões de processos. Litiga por causa de uma combinação de fatores. Temos uma Justiça paternalista e gratuita e centrais de atendimento a clientes que deixam a desejar. Muitas vezes as pessoas não querem ir à Justiça, mas não conseguem resolver facilmente de outra maneira. Queremos facilitar esse diálogo”, comenta Camilla.

Camilla é advogada de formação, mas atuou por alguns anos em grandes corporações como Magazine Luiza, Lojas Renner, Gafisa e Santander nas áreas de vendas, crédito e cobrança. Se juntou à MOL em 2016, quando um amigo em comum a apresentou para Melissa Gava, que já tocava a iniciativa desde 2015.

Formada em ciências políticas na PUC de São Paulo e em direito internacional na Universidade La Sapienza, em Roma (Itália), Melissa cursou especialização em direito internacional na Sorbonne Paris I, na França, e negociação em Harvard, nos Estados Unidos. Durante os estudos, apaixonou-se pelo tema soluções alternativas de conflitos, especialmente por mediação. De volta ao Brasil, decidiu empreender na área criando a MOL.

No início, a mediação ainda era caseira e mais entre pessoas físicas. Com a chegada de Camilla, que tinha experiência em prestação de serviços financeiros em grandes empresas, as empreendedoras deram escala ao negócio e decidiram focar em empresas como clientes.

Durante a pandemia, a startup passou a ajudar tribunais de Justiça a migrar para o ambiente on-line seus processos de mediação e conciliação. Além de acesso à plataforma em si, também deram treinamento a juízes, servidores e outras pessoas envolvidas.

FONTE: Valor Investe | FOTO: Imagem de Nappiness por Pixabay