A medicina, a magistratura e o magistério são, nessa ordem, as carreiras com o maior nível de estresse e potencial para comprometer a saúde psíquica e provocar doenças da contemporaneidade. A informação foi prestada pela psicanalista Mônica Véras em palestra no I Seminário sobre Saúde de Magistrados e Servidores do Poder Judiciário, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça. A informação está no portal do CNJ.
No evento realizado no Tribunal Superior do Trabalho (TST) na quinta-feira (28/3), Mônica Veras, que é ex-professora da Universidade Federal da Bahia e presidente do Núcleo de Atendimento Psicológico da Bahia, fez uma associação entre a psicanálise e o direito, expondo que os magistrados lidam ao longo de sua carreira com questões complexas que permeiam a vida das pessoas, seus conflitos, temores, anseios e expectativas. “Muitas vezes, uma audiência é um campo de batalha”, disse ela, expondo que “os níveis de ansiedade e angústia se elevam no ato solitário de julgar e lidar com o processo burocrático do trabalho”.
Véras também apresentou as experiências dos ateliês clínicos de interface entre a psicanálise e o direito, em atividade há 10 anos com magistrados e servidores do TRT-5 em Salvador e mais recentemente também em Porto Alegre. Nesses ateliês são empregadas técnicas de fala e de escuta atenta em que magistrados e servidores falam sobre como a ocupação que escolheram os afetam. Durante as sessões, os participantes trabalham três pilares de sustentação da psiquê: autoestima, autoconfiança e autoimagem para lidar com as situações cotidianas de estresse e conter a angústia e a ansiedade.
A psicanalista salientou que a saúde está relacionada aos pólos laboral e afetivo e que os tempos modernos, com sobrecarga de trabalho, vida corrida e uso intenso de tecnologia estão provocando doenças psíquicas que são subjetivas e, muitas vezes, com sinais invisíveis.
Os efeitos no corpo são sintomas psicossomáticos; na esfera mental, as obsessões, e na relação com o mundo, os medos, o pânico e as fobias. Como exemplos de sintomas corporais ela apontou as psicodermatoses, gastrite, úlceras, enxaquecas e insônia. Como sintomas mentais ela citou os transtornos obsessivos compulsivos, culpas, angústias, ansiedade, medos, preocupação intensa e baixa tolerância à frustração, assim como perfeccionismo exarcebado.
Durante o I Seminário sobre Saúde de Magistrados e Servidores do Poder Judiciário o CNJ apresentou um relatório referente à saúde de magistrados e servidores do Poder Judiciário. Nesse trabalho foi constatado que o índice de absenteísmo-doença foi de 1,5% para magistrado e de 2,1 para servidor. Isso equivale dizer que, em média, cada magistrado se ausentou seis dias no ano para tratamento de saúde e que cada servidor se ausentou, em média, oito dias no ano. Entre os motivos das abstenções constam doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo, doenças do aparelho respiratório e transtornos mentais e comportamentais.
FONTE: CNJ | Foto: Abdias Pinheiro/Agência CNJ