
Sistemas decisórios automatizados em nossa sociedade, há algum tempo, têm sido realizado por inteligências artificiais, mesmo quando não temos consciência desse fenômeno.
Por exemplo, sistemas de seleções de emprego, robôs “trade” de investimento inteligente em bolsa de valores, sistemas agentes de alerta e intervenção primárias em UTIs, sistemas de recomendação de produtos e conteúdos, são gerenciados por meios de modelos de aprendizagem e sistemas realizados por computação cognitiva. De tão importantes, hoje são fundamentais para compreensão dos sistemas humanos e sociais que sugerem padrões, justamente porque são capturados por máquinas.
Dito isso, saímos da era “google” em que buscávamos conteúdos a partir de uma diversidade de possibilidades e propostas de links que apareciam em tela na nossa frente, nos dando a falsa impressão de nosso total controle sobre o conteúdo que queríamos acessar, para a era do Watson e da GPT, sistemas da chamada computação cognitiva, capazes de compor as sugestões do google em regimes lógicos e correlacionados, facilitando demais nossa vida, afinal, com um comando eles programam, fazem poesias, redações e textos argumentativos espantosos, identificam tumores com precisão 5x melhor e mais rápida que o ser humano e até interagem conosco em nossa solidão. “Boa noite alexa….”
Essa passagem tecnológica causou espanto e medo para todo o mercado produtivo. Programadores, profissionais de saúde, advogados e juízes são pequenos exemplos que reconhecem suas fragilidades frente a um padrão computacional que “pensa”, embora pense como um jovem de 18 anos.
Os sistemas computacionais agora aprendem com a experiência computacional que usa a experiência humana como padrão. E novas formas de “ajuda” estão permitindo que as habilidades humanas se centrem em habilidades específicas cujo tempo de compreensão cognitiva da máquina carece mais de: tempo. Sistemas copilot estão vindos com a força espantosa de resolver nossa vida. Planilhas, apresentações, sistemas de indicadores, agora podem ser feitos sem habilidade específica nenhuma. Basta dizer para o Excel, que você deseja fazer a mediana das últimas três células de 10 planilhas de clientes com mais de 4 mil linhas, com o filtro “precatórios”, sinalizando em vermelho as ações acima de 40 mil reais que estão em fase de execução, apontando a probabilidade de recebimento nos próximos 6 meses e…, voilá, planilha feita em 18 segundos, dando a você o resto do dia no Instagram e pagando seu salário no final do mês com direito a receber elogios do chefe como: “você é um profissional muito competente!”. Você ainda pode pedir para o copilot compor uma apresentação com um fundo composto de mar e escritório, com 10 slides que tenha na introdução dados gerais dos ganhos do escritório baseado na planilha que você mandou a máquina fazer para você, garantindo até um bónus especial.
É meus amigos e amigas, a sua única habilidade necessária será a narrativa algorítmica, ensinar detalhadamente a sistemas ávidos para aprender, para que a máquina faça isso no futuro sem você. Se antes a discussão estava no fornecimento dos seus dados para a criação de padrões, agora estamos na fase de compor os padrões necessários para as necessidades das máquinas. Viramos escravos do pensamento de sistemas copilotos, com a justificativa de facilitar nossa vida. Isso tem feito que pensamentos humanos, em geral, de formato e conteúdo tenham ficados, de maneira geral, mais limitados.
Haverá guetos de resistência sim, locais e tipos de pensamentos cuja penetração exigirá da máquina e daqueles que a programam um esforço ainda desumano e inviável. Por outro lado, sistemas narrativos simples, com a docência no formato atual, os tipos de avaliações de aprendizagem realizados em concursos, preenchimento de balanços para empresas contábeis, ou narrativas argumentativas em espaços jurídicos ou jornalísticos, estejam em transição e superação, de forma que, muitos jornalistas, contadores, economistas, professores, advogados, juízes, médicos, dentre outros, estão tendo melhor desempenho quando usam sistemas copilotos do que se o fizessem de forma autoral. Rendem-se ao “nó” da inteligência artificial, ganham provisoriamente com isso, embora percam espaço permanentemente.
Há 2 anos juízes começavam a usar com mais frequência IA para compor suas decisões. Hoje, tribunais na China e na Finlândia usam IA no lugar de juízes, mesmo que com frequência lemos artigos em jornais que dizem: “inteligência artificial não substituirá magistrado”.
Pobres humanos sem esclarecimento, a IA é avassaladora, aponta para um pensamento híbrido que torna o pensamento humano tão assessório que quando toma nosso lugar não damos conta. Carros e aviões autônomos que o digam, montadoras e máquinas industriais ratificam, colheitadeiras e sistemas de automação agrícola que confirmam. Nenhum deles precisam mais do humano para produzir, montar, colher, classificar e armazenar e assim, maximizam resultados.
Os sistemas cognitivos tornam o pensamento humano tão híbrido, que de tão humano, desconfio que essas entrevistas de magistrados falando sobre a limitação das inteligências artificiais, são escritas por inteligências artificiais se passando por magistrados.
Preparem-se, reflitam sobre novos seres humanos em novos mercados produtivos. Novos sistemas educacionais e avaliativos, novos mercados e novas competências para força de trabalho, porque não haverá condescendência nem misericórdia no descarte do humano fordista, que não é humano complexo, moderno e não capturável. Aliás, talvez esse texto, nem por um humano tenha sido escrito…. por isso, apenas preparem-se.
Por Gustavo Barbosa
Doutor em Informação e Comunicação em saúde – FioCruz/RJ
Analista de dados – LICTS /FioCruz/USP