Local onde foi encontrado o crânio de Luzia, o mais antigo das Américas, está ameaçado por construção da cervejaria, que pode até soterrar uma das cavernas

A ameaça de soterrar o complexo de grutas e cavernas onde foi encontrado o esqueleto mais antigo das Américas — o crânio de Luzia — levou o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) a paralisar as obras de uma fábrica da cervejaria Heineken em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O órgão do Ministério do Meio Ambiente também enviou ofício para o governo mineiro, que já havia concedido a licença prévia para a construção, e aplicou duas multas na empresa, que somam R$ 83 mil.

De acordo com o site Reporter Brasil, a construção da fábrica previa um investimento de R$ 1,8 bilhão para o Estado e a criação de 350 empregos diretos. “Os impactos [à Área de Proteção Ambiental Carste Lagoa Santa, vizinho à construção da fábrica] são desconhecidos e imprevisíveis”, afirmam os fiscais do ICMBio, pois os estudos apresentados pela Heineken e aprovados pelo governo mineiro são falhos, segundo eles.

A caverna Lapa Vermelha IV, onde foi encontrado o crânio de Luzia, pode ser “fatalmente afetada” com a futura fábrica, continuam os fiscais. O ICMBio afirma que não foram apresentados estudos que possibilitem saber como a construção da fábrica afetará a dinâmica da drenagem da água. Uma das fontes de captação para produzir a cerveja é o subsolo, com um volume de 310m³ por hora, o que seria suficiente para abastecer uma cidade de 37 mil habitantes. “A retirada de água do subsolo poderá implicar em consequências danosas ao meio ambiente”, afirma a nota do ICMBio.

Ainda de acordo com a reportagem, o Repórter Brasil pediu o posicionamento da Heineken em duas oportunidades. Na primeira resposta, enviada em 10 de setembro, a empresa disse que forneceu todos os documentos, dados e estudos técnicos para obter a licença ambiental e que estava ciente de que a licença seguia o processo normal.

Na segunda resposta, enviada em 15 de setembro após a obra da fábrica ser embargada e a empresa receber duas multas do ICMBio, a empresa disse que suspendeu a atividade de terraplanagem após a ação dos fiscais. Disse também que está à disposição dos órgãos envolvidos. Destacou ainda que “reforça seu profundo compromisso com a preservação do meio ambiente e com a legislação ambiental em vigor”.

FONTE: Reporter Brasil | FOTO: Heineken Divulgação