Modalidade eletrônica do crime aumentou 65,2% em 2022 na comparação com 2021

Depois de ver shows de samba no Bixiga, na região central de São Paulo, Rafael DeLuca, 28, parou em uma lanchonete a cerca de 1 km dali para comer. Quando foi pagar a conta, percebeu que o cartão bancário não era seu.

Naquele momento, ele acionou o atendimento do banco e descobriu que diversos saques tiraram todas as suas economias da conta, cerca de R$ 10 mil. O cartão bancário do executivo de comunicação havia sido trocado por um golpista que vendia bebidas como ambulante no samba.

“Eu estava disperso, era na rua. Fui passar o cartão e ele disse que a maquininha não estava com sinal. Em certo momento, ele se virou, de alguma forma capturou a senha com a máquina e trocou meu cartão sem que eu visse.”

O caso aconteceu em março do ano passado e fez parte de um dos principais tipos de crime contra o patrimônio praticados em 2022. É o que mostram dados do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública publicados nesta quinta-feira (20).

O estelionato passou de 1,8 milhão de casos, com crescimento de 37,9% entre 2021 e o ano passado. Já o estelionato eletrônico acelerou, com aumento de 65,2 e chegou a 200,3 mil ocorrências, segundo as informações do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O segundo crime foi definido em lei em 2021, e tem penas maiores do que o crime clássico, quatro a oito anos (contra um a cinco anos). O estelionato eletrônico se caracteriza pelo uso de redes sociais, contatos telefônicos ou o envio de emails para induzir a pessoa à fraude, por exemplo.

Seis estados, incluindo São Paulo, não forneceram dados sobre o crime. Isso pode indicar, segundo o Fórum, que os casos acabam sendo registrados como estelionato por causa do pouco tempo da definição legal de fraude eletrônica.

Supondo que Rafael teve o cartão trocado por volta de 0h e percebeu a fraude às 4h, cerca de 832 golpes poderiam ter sido aplicados naquele período —208 por hora, segundo os dados do anuário.

Centro financeiro e populacional do país, São Paulo é o estado com o maior número de ocorrências, segundo os dados das pastas de Segurança Pública e órgãos correlatos nos estados. Foram 638.629 golpes registrados no ano passado, contra 382.110 em 2021.

Na comparação proporcional, da taxa de ocorrências em relação à população de cada estado, São Paulo fica atrás do Distrito Federal, que lidera as unidades federativas com 1.832,3 registros de estelionato a cada 100 mil habitantes.

Depois do susto, Rafael precisava dar conta dos prejuízos. “Veio tudo na minha mente, você aceita que caiu em um golpe. Abri o aplicativo e vi que limparam a conta em dez minutos com oito transações.”

Às 5h, ainda na mesma madrugada, ele registrou um boletim de ocorrência eletrônico. “O que me salvou foi que na hora que o ladrão estava fazendo as transações eu ainda consegui que bloqueassem uma de R$ 900, comprovando que não era eu que estava sacando.”

Depois, ele registrou boletins para o roubo do cartão de banco e do roubo do dinheiro. Como era um banco digital, Rafael precisou encarar mensagens que indicavam um desfecho ruim. “Disseram para realinhar minhas expectativas sobre a devolução do dinheiro. Mas minha mãe foi bancária a vida toda, e me passou alguns caminhos.”

Sem dinheiro para pagar o aluguel do mês, ele ficou aliviado quando, com a ajuda da mãe, conseguiu recuperar cerca de 90% do valor na semana seguinte. “Segurança foi a principal falha, porque o aplicativo não bloqueou as transações estranhas para o horário e meu padrão de consumo.”

FONTE: Folha de São Paulo | FOTO: IT Forum