Muito se acompanhou nos últimos dias o desenrolar das eleições para o legislativo, governos estaduais e presidência do nosso país.
Dentre as diversas formas de campanha eleitoral (vídeos televisivos, materiais impressos, inserções via rádio), uma delas sempre chamou atenção e nesse ano não foi diferente: os debates televisivos.
O motivo pelo qual esse meio de campanha se destaca se dá em virtude de os candidatos terem a oportunidade de expressar para o grande público suas propostas e projetos, além de confrontar, presencialmente, as candidaturas concorrentes.
Todavia, o que chamou atenção esse ano não foram as propostas, mas sim a forma por meio da qual os pleiteantes desenvolveram suas falas – marcadas por palavras chulas, agressivas, tons irônicos, piadas, enfim… distantes do que se espera em uma troca saudável de ideias.
Enquanto entusiasta da comunicação assertiva, notei aspectos característicos que foram despriorizados e que, com isso, geraram o atrapalhado resultado do diálogo.
Tenho ciência de que nesses debates o compromisso com comunicação assertiva não é a prioridade, mas por que não aproveitar essa situação para aprender a como fazer melhor em nossos negócios e vida pessoal?!
A iniciar, a base da conversação se estabelece na contextualização das informações. É comum considerarmos o contexto ou introdução das nossas mensagens como algo dispensável ou até desnecessário – no dia a dia é a primeira coisa a ser engolida pela pressa. Acontece que, na prática, a contextualização pode garantir o resultado mais do que a própria informação em si. Veja esses dois exemplos:
“Oi, fulano! Por favor, siga com esse projeto. Precisamos entregar até sexta. Obrigada”
“Oi, fulano! Estou te enviando o Projeto XPTO que tem como objetivo construir a Identidade Visual desse cliente. Nossa Noção de Sucesso é que o cliente consiga usar todos os elementos visuais em suas redes sociais com diferentes tamanhos e cores. Esse é um cliente especial e, por isso, nosso olhar está atento a essa entrega e o prazo foi definido até sexta. Obrigada!”
Se você está recebendo essas mensagens, certamente ficará mais preparado e comprometido ao ler a segunda versão, simplesmente pelo fato de estar mais contextualizado.
Outro ponto inegociável é a escolha das palavras certas. A nossa língua é rica e abundante em variações, o que, ironicamente, parece mais desafiante do que construtivo de bons diálogos. A constante escolha das mesmas (e, muitas vezes, erradas) palavras ou frases enfraquece nossas trocas e pode comunicar algo desrespeitoso e intimidador.
Nesse aspecto, os debates políticos nos apresentaram diferentes exemplos de como NÃO fazer.
Já imaginou no ambiente corporativo receber um feedback com “É lamentável ter um líder que mente e a sua figura seria hoje um personagem: o pinóquio” (Adaptação da fala da candidata Simone Tebet);
ou até dizer para um colega de sala “Mentiroso, ex-presidiário, traidor da pátria” (Adaptação da fala do candidato Jair Bolsonaro);
e imagina na reunião com a equipe ouvir “É uma insanidade você vir aqui e dizer o que fala com a maior desfaçatez (Adaptação da fala do candidato Lula);
Por favor, não quero associar os exemplos a posicionamento político-partidário. Definitivamente esse não é o objetivo e não escolhi os exemplos com esse viés.
O que quero destacar é a forma, palavras e entonação erradas na transmissão da mensagem. O receptor da comunicação, nessas situações, dificilmente absorverá as informações. Sua concentração estará mais em se defender do que em compreender a ideia do terceiro.
Isso não significa que na comunicação assertiva não devemos falar a verdade, por mais difícil que seja.
Esse é o terceiro elemento que gostaria de pontuar.
É preciso haver honestidade em nossas trocas. Quanto mais verdadeiros somos, maior é a construção de confiança que estabelecemos nas nossas conexões. Entretanto, a honestidade precisa ser indissociável do cuidado.
Quando estamos genuinamente interessados no crescimento da outra pessoa, no resultado final de um projeto, na transmissão correta da mensagem, precisamos investir esforço para apresentar cuidado nas nossas relações. Isso pode se dar pela escolha das palavras, pela abertura a ouvir a outra pessoa e até pelo espaço escolhido para a conversa.
Comunicações saudáveis constroem relacionamentos saudáveis e um negócio com conexões fortes prospera.