
A partir do anúncio de que mundo vivia uma pandemia, no fim do ano de 2019, as pessoas, as famílias, as empresas, as instituições de ensino e a própria lógica de viver, estudar, trabalhar e sonhar acabaram mudando. Afinal, diante de uma crise sanitária e, em especial, da incerteza do futuro, com o fechamento das escolas, dos shopping centers, das organizações que desenvolviam atividades consideradas não essenciais, dos órgãos públicos, enfim, de tudo o que fosse capaz de diminuir a circulação e contato entre as pessoas, com a finalidade de impedir a avançada contaminação pelo Coronavírus, verdadeiras mudanças foram impostas.
Passados mais de 2 (dois) anos de tudo isso, constatada a redução drástica da circulação do vírus, afastada a obrigação de uso de máscaras e registrados os mais de 600.000 (seiscentos mil) brasileiros que morreram no referido período como consequência da contaminação, é hora de voltar os olhos para as mudanças.
Direcionando para a área jurídica, é possível perceber que muitas coisas boas acabaram por acontecer. Aceleração da digitalização dos processos que ainda tramitavam de maneira física, realização de audiências e julgamentos em formato de videoconferência, criação de balcões virtuais para atendimento nos fóruns do país, atendimento pelos magistrados via plataformas de videoconferências, consultas e reuniões com clientes de modo virtual, debates de assuntos da área jurídica através de lives, dentre outras.
De cara, fácil apontar o que, realmente, mudou, levando em conta a rápida adaptação de todos os operadores da área jurídica, que foram literalmente empurrados para o despenhadeiro das mudanças.
Entretanto, caso a pergunta encartada no título do presente artigo fosse: o que mudará no mercado jurídico?
Considerando que a pandemia fez acordar um importante gosto que estava um pouco adormecido ou até mesmo colocado em segundo plano – a leitura diária – passei a buscar nos livros a resposta para o futuro.
Embora alguns até apontem que as referidas respostas não poderão ser localizadas nos livros, os quais apresentam fatos e opiniões de algo que já aconteceu, alguns títulos voltados a área jurídica chamaram bastante atenção:
• O advogado do século XXI – José Roberto de Castro Neves (2021);
• Novos paradigmas para gestão na advocacia – Coordenado por Camilla Pinheiro (2022);
• Fim dos advogados? – Coordenado por Bruno Feigelson, Daniel Becker e Giovani Ravagnani (2022).
Em todos eles, as análises feitas por diversos profissionais apontam as mudanças já vistas e, paralelamente, direcionam o olhar para o futuro.
Perguntas como “o que acontecerá com o trabalho dos advogados e do seu escritório em 2036?” nos obrigam a parar e olhar para o futuro da área jurídica, especialmente da advocacia.
A obra “o fim dos ADVOGADOS?” conquistou minha curiosidade pelo título. Afinal, quem nunca ouviu o comentário de que a tecnologia importará na substituição do homem pela máquina, de maneira mais precisa, rápida e até mesmo mais barata?
Embora tenha lido nos últimos meses diversas opiniões e análises envolvendo o impacto da tecnologia, das legaltechs, da resolução de disputas na internet, da estatística, da possibilidade de sócios não advogados em escritórios de advocacia, da publicidade, do marketing jurídico, da educação e ensino jurídico, da sociologia, da psicologia, da econômica, das finanças, do design, ou seja, de diversos ramos, o que ficou bastante evidenciado é que, para não ter fim, os profissionais da área jurídica, especialmente, os ADVOGADOS necessitarão:
Buscar conhecimento diário através do hábito obrigatório de leitura: ter consciência que o conhecimento não pertence apenas a ele, levando-se em conta que, com a internet, os clientes podem buscar entender de determinada matéria da área jurídica e até superar os profissionais;
Alinhar-se com a tecnologia: fazer uso dos meios tecnológicos para tornar o trabalho mais rápido, prático e barato;
Abrir a mente para adaptação: a forma de trabalho e a lógica da vida são totalmente diferentes, tendo gerado valores diversos daqueles aprendidos nos últimos 10 (dez) ou 20 (vinte) anos;
Especializar-se: conhecer de um ramo com profundidade fará total diferença na forma de atendimento, na entrega de uma solução para o cliente e, principalmente, no reconhecimento do mercado;
Aprender outras habilidades oriundas de áreas distintas da jurídica: tecnologia, marketing, economia, finanças, psicologia, arquitetura, engenharia, filosofia, sociologia, medicina, enfermagem, comercial, dentre outros.
Cuidar dos clientes como pessoas: após a pandemia, tornou-se perceptível como as pessoas estão precisando de atenção, de serem ouvidas e aconselhadas por alguém que esteja fora do problema, porém, que ofereça a oportunidade de reflexão em um mundo de tanta aceleração;
Comunicar-se com o mercado: em meio a uma cultura de que a advocacia não poderia fazer publicidade, com o advento das redes sociais e os softwares de comunicação instantânea, a forma de comunicação entre profissionais, clientes e amigos mudou completamente e a preparação para o uso é indispensável.
Certamente, o principal conselho a ser dado para quem pertence a área jurídica é: APRENDA, ADAPTE-SE E MUDE, diariamente…
“O uso da tecnologia tornará o trabalho das pessoas qualificadas mais valioso e importante, o que vai exigir mais preparo e qualificação do advogado.” (p. 115 – A advocacia na era digital)
figura: https://portal.fgv.br/noticias/futuro-direito-e-desafios-educacao-juridica-e-tema-debate-sao-paulo