
Desde 2004, foram ao menos 11 boletins de ocorrência de violências registrados por sete mulheres contra o advogado de Campinas. Vítimas relatam chutes e ossos quebrados após espancamentos.
“Fui arrancada da minha cadeira de balanço, jogada de costas no chão e desmaiei. Acordei numa poça de sangue porque bati com a cabeça. Tive o nariz quebrado, a ruptura dos maxilares, edemas pelo couro cabeludo inteiro, costelas quebradas pelos chutes que ele me dava”. A matéria é do G1.
O depoimento é da desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho Silvia Prado, que sofreu a violência no início deste ano. O suspeito da agressão é Miguel Correa Mantilha Filho, 49 anos, um advogado de Campinas (SP), investigado pelo Ministério Público pelo crime e alvo de ao menos 11 denúncias de violência contra sete mulheres. A defesa dele nega as agressões.
A EPTV, afiliada da TV Globo, teve acesso ao caso e a outras vítimas do advogado, que se relacionou com as mulheres em Campinas e também em cidades do litoral paulista.
Os boletins de ocorrência contra o suspeito citam crimes de ameaça, dano, injúria, lesão corporal e violência doméstica, e os primeiros casos ocorreram na metrópole. As Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) de Campinas, Santos e Guarujá seguem investigando Miguel para esclarecer todos os fatos. Veja os detalhes abaixo.
Relacionamentos começaram em rede social
A desembargadora Silvia Prado tinha acabado de enfrentar uma depressão profunda após a morte do esposo quando conheceu Miguel em uma rede social. “Uma pessoa com nível intelectual fora do normal”, segundo ela. Em janeiro, quando foi espancada por duas horas, uma vizinha chamou a polícia.
“O soldado tirou ele de mim quando eu estava dando o meu último fôlego e entregando a minha alma a Deus, porque eu achei que eu já estava morta”. Silvia ficou oito dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
O caso corre em segredo de Justiça, mas no dia 26 de fevereiro ele postou uma nota na sua rede social comentando o que havia acontecido. No texto, ele afirma ser inocente e diz que apenas teria tentado controlar Silvia, que estaria sob efeito de álcool.
O caso foi registrado como lesão corporal, mas a defesa de Silvia pede que ele responda por tentativa de feminicídio.
Aparecido Delegá, advogado de Miguel, afirmou que o seu cliente não agrediu Silvia. “Segundo ele houve, sim, o contrário. E ele num intento de se autodefender e também defendê-la para que ela não se machucasse, acabou gerando esses ferimentos nela”, afirmou.
Miguel mandou uma mensagem à reportagem da EPTV dizendo que se recorda de um caso onde discutiu com uma das vítimas e trocaram agressões. Afirmou que houve, sim, uma condenação neste caso. Já em relação a outros processos, ele disse que todos foram arquivados e que nunca agrediu uma mulher.
TRT se pronunciou
O TRT disse, em nota, que “repudia veementemente qualquer tipo de violência e mantém o compromisso de continuar atuante nas causas referentes à proteção das mulheres, minorias e demais grupos sujeitos à discriminação e atos violentos”.
Sobre a desembargadora, o Tribunal disse que está “extremamente sensibilizado”. “Ela tem à disposição os especialistas do corpo médico próprio do TRT, e todo o apoio lhe está sendo prestado, dentro dos limites institucionais”.
11 investigações
Sobre os 11 boletins de ocorrência registrados desde 2004, a Secretaria de Segurança Públicas (SSP) informou, em nota, que a 1ª Delegacia de Defesa da Mulher de Campinas instaurou dois inquéritos policiais para investigar ocorrências de violência doméstica e lesão corporal contra o suspeito, em 2012.
“Ambos os procedimentos foram relatados à Justiça, sendo que em um deles houve sentença condenatória e em outro o Ministério Público ofertou denúncia”, explicou.
Nos casos ocorridos em 2004, 2009 e 2010, as vítimas não representaram contra o autor, disse a SSP. Já as ocorrências do litoral paulista tramitam em segredo de Justiça.
FONTE: G1 | FOTO: Reprodução Instagram