Equipamento permite a jogadores treinarem o cabeceio sem precisar de bolas reais

Cinco clubes da elite do futebol inglês estão utilizando a inteligência artificial (IA) em treinamentos das categorias de base para evitar que jovens jogadores possam desenvolver demência no futuro. A informação é do blog O mundo da Bola, do Uol.

Leia também: BNDES adia exigências de nacionalização de carro elétrico para liberar crédito

Essas equipes, de acordo com reportagem do jornal Daily Mail, instalaram em seus locais de treinos equipamento para que os atletas possam cabecear a bola sem cabeceá-la de verdade.

Desse modo, não há mais impacto na cabeça, o que contribui para a redução do risco de demência no decorrer da vida, segundo estudo da Universidade Metropolitana de Manchester.

O fabricante do sistema é a britânica Rezzil, empresa que desenvolve ferramentas pelas quais é possível que esportistas desenvolvam suas habilidades com exercícios simulados, por meio de um visor e de fones de ouvido.

Uma das equipes que recorrem à IA é o Leicester, campeão da Premier League em 2016. Os nomes dos outros times não foram revelados.

A preocupação do mundo do futebol com a questão da demência tem crescido recentemente.

Pesquisa de 2019 da Universidade de Glasgow (Escócia) apontou que ex-jogadores têm 3,5 vezes mais chance de receberem diagnóstico de doenças neurocognitivas degenerativas do que o restante da população.

Esse problema decorreria de seguidas concussões, que são lesões cerebrais provocadas por pancadas na cabeça, mas não graves a ponto de escancarar os sintomas.

A demência, na definição do dicionário Houaiss, é “a perda da origem orgânica, frequentemente progressiva, sobretudo da memória, que também compromete o pensamento, o julgamento e a capacidade de adaptação a situações sociais”.

Em linguagem mais direta, a pessoa deixa de raciocinar direito e tem confusão mental e perda de memória acentuadas.

Dois famosos jogadores ingleses, Jack Charlton e Nobby Stiles (campeões mundiais em 1966), morreram em 2020, aos 85 e 78 anos, respectivamente. Ambos tinham demência.

O inglês Jack Charlton, então técnico da seleção da Irlanda, leva a mão à cabeça durante treinamento do time em 1994; ao seu lado está, cabisbaixo, o jogador Kevin Moran
O inglês Jack Charlton (à dir.), então técnico da seleção da Irlanda, durante treinamento do time em 1994 – Jean-Loup Gautreau – 27.jun.1994/AFP
No Brasil, a família de Bellini, morto em 2014, doou para a USP (Universidade de São Paulo) o cérebro do capitão da seleção campeã na Copa de 2014.

Concluiu-se que ele tinha Encefalopatia Traumática Crônica, conhecida como “demência pugilística”, resultado, possivelmente, do excesso de cabeçadas que ele deu quando jogador –era zagueiro e vivia cortando lançamentos e cruzamentos com a cabeça.

Na opinião de Michael Grey, neurocientista que falou à CNN, “toda cabeçada é ruim, seja nos jogos ou nos treinos”.

“O que se pode fazer é reduzir as cabeçadas nos treinos, e um dos jeitos é introduzir técnicas diferentes, parar de cabecear tanto, com o envolvimento de tecnologia avançada”, afirmou o especialista da Universidade da Ânglia Oriental, em Norwich (Inglaterra).

Nesse contexto, com o advento da tecnologia, atletas podem manter, nas sessões com IA, um nível adequado de treinamento com menos temor de que venham a ter lesões cerebrais.

Um dos fundadores da Rezzil, Andy Etches afirma que a simulação oferece os mesmos benefícios que a prática com uma bola real. “Você precisa do ‘timing’ correto no movimento com a cabeça, posicionar o corpo corretamente. Fazer o que faria no jogo.”

FONTE: O mundo da Bola UOL | AFP