Aos pés do Cristo Redentor, no maciço da Tijuca, no Rio de Janeiro, líderes religiosos participaram, na noite de quinta-feira, 05/12, de um ato para celebrar o Dia da Justiça. O evento, organizado pelo Fórum Permanente da Justiça do Estado do Rio de Janeiro (Fojurj), reuniu representantes de sete religiões: Marcio de Jagum, pelo Candomblé; o pastor da Igreja Batista, Edvaldo Nascimento, pelo Evangelismo; Alexandre Pereira da Silva, pelo Espiritismo; Kunti Devi Dasi, pelos  Hare krishnas; o rabino Paulo Maltz, pelo Judaísmo; o iman Sheikh Adam Muhammead, pela religião muçulmana e o padre Nelson Águia, pelo Catolicismo.

A celebração contou com a presença do presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), desembargador federal Guilherme Calmon; do presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), desembargador Ricardo Cardoso; do presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT1), desembargador Cesar Carvalho e da desembargadora Thatiana de Carvalho Costa, representando o presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), desembargador Henrique Figueira. O presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), Fernando Quadros; o diretor do Foro de seção Judiciária do Rio de Janeiro, Eduardo André de Brito Fernandes; Paula Patrícia Provedel e Alfredo Jara Moura, juízes-auxiliares da Presidência do TRF2, também participaram do ato.

Diante do símbolo da Cidade Maravilhosa, o presidente do TRF2 fez questão de saudar a união entre as quatro casas de Justiça. “O Fojurj é o reconhecimento da nossa responsabilidade social ligada à ideia de que o sistema de Justiça representa uma das mais importantes manifestações voltadas à pacificação a efetivação do próprio ideal de justiça e é o cumprimento dos direitos fundamentais dentro da sociedade”, afirmou. Depois de lembrar do decreto-lei de 1945 que declarou feriado para efeitos forenses o  8 de dezembro, Calmon destacou que tantas religiões reunidas no ato é um ótimo sinal, porque “demonstram como é possível reverter um quadro de injustiças e iniquidades que significativa parcela da população mundial vem sendo vítima. Não causar mal ao outro, preservar a natureza e agir em prol do bem-estar do próximo são máximas que precisam sair do plano abstrato e se concretizar em práticas cotidianas e ações”. O magistrado diz que o ato deve ser a mola propulsora “para assumirmos cada vez mais nossa responsabilidade na construção de uma sociedade cada vez mais inclusiva, livre, justa e solidária, fortalecendo cada vez mais as instituições democráticas”, destacou.

Justiça, fé e paz foram palavras usadas pelos representantes religiosos no ato. Em sua fala, o candomblecista Marcio de Jagum contou que sua religião é organizada a partir da oralidade. “As  leis não são escritas, os códigos não são registrados. A justiça para nós é sentida no contato com a natureza, é sentida a partir da filosofia inspirada pelo criador, a partir de uma interação entre os seres. O nosso criador, a quem chamamos de Olorum, ganha muitos epítetos e títulos. Um deles é Olófin, o grande julgador”, destacou, lembrando que a tarefa de magistrados é uma tarefa divina. Não são deuses, mas exercem uma função extremamente importante – porque não dizer sacerdotal – mediar as relações humanas, promover o que é bom, o que é justo e organizar a sociedade a partir do sentimento de Justiça. Sem dúvida, é uma tarefa árdua”, ressaltou.

O pastor da Igreja Batista Edvaldo Nascimento, que representou o Evangelismo, disse que o Rio de Janeiro sempre esteve na vanguarda, reunindo religiões num ato e promovendo a união entre instituições. “Lembrei de Jesus no Sermão da Montanha, em Mateus, capítulo 5, versículo 6 ‘Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos’. Caros juízes,  advogados e desembargadores. Somos convocados por essa passagem não apenas para refletir sobre a justiça, mas encarnar em nosso trabalho de todos dos dias essa bem-aventurança no Sermão da Montanha, que nos apresenta uma visão do reino de céus, aqueles que anseiam por justiça e que perseveram. A justiça deve ser mais do que um dever ou uma tarefa, mas uma necessidade”, disse Nascimento.

Ao falar como o Espiritismo surgiu no Brasil, Alexandre Pereira da Silva lembrou de um fato curioso. “O desembargador Gustavo Farnese foi o primeiro presidente da Federação Espírita do Rio de Janeiro. Ele ajudou a fortalecer o movimento”, disse Pereira da Silva, que explicou a doutrina, “Somos cristãos. Acreditamos na moral do Cristo. O espiritismo não apresenta moral nova. E na  filosofia espírita é trazida o exemplo da lei, de Justiça, do amor e da caridade, não uma por uma, mas todas em conjunto. Ou seja, a ideia de que o amor e caridade acompanham a justiça Que as penas, mentes e corações de juízes se iluminem em suas funções”, ressaltou.

Kunti Devi Dasi, da Hare Krishna, falou sobre o conceito da Justiça. “A vida tem quatro pilares que precisam ser vivenciados para cumprir nosso papel. Precisamos descobrir qual é o nosso dever, qual é a nossa função, quais são nossas habilidades, quais são os nossos limites e junto a isso procurar buscar de acordo com essa dimensão, o darma. O que é chamado a dimensão do darma? Jesus falava para amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Quando se pensa em mandamentos, se pensa em ordem e lei, nesse caso uma lei divina. A palavra darma está interligada à palavra lei porque darma pode ser traduzido como religião, mas muitas vezes é traduzido como Justiça mostrando esse entrelaçamento”, explicou.

O rabino Paulo Maltz lembrou que há mais de dois mil anos já se  falava em justiça, juízes e julgamento no Judaísmo. “O versículo 19 da Torá diz: não torcerás o juízo; não farás acepção de pessoas; não receberás suborno por quanto  o suborno cega os olhos dos sábios e perverte a palavra dos justos. No Versículo 20: a justiça seguirás somente a justiça para que vivas e possuas em herança a terra que dá o Senhor teu Deus. A religião judaica se pauta, portanto, pela justiça e pelo amor ao próximo”, explicou o rabino.

O imá, sheikh Adam Muhammead, que representou a religião muçulmana destacou o papel e as dificuldades enfrentadas pela Justiça. “Sei dos desafios que vocês atravessam. Muitas pessoas não querem justiça e vocês estão lá, com firmeza, dedicação e aptidão. Sem justiça tudo se acaba, as pessoas ficam sem seus direitos”, afirmou.

O padre Nelson Águia, que representou o cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta,  ofereceu aos presentes reflexões do Papa Francisco sobre a Justiça. “O santo padre sempre enfatiza como a justiça é fundamental nos dias de hoje e recorda a missão do Poder Judiciário: reparar as violações dos direitos e preservar o equilíbrio institucional e social. O Papa frisa que as leis existem e estão em vigor, mas o problema é a sua aplicação efetiva que se perfaz pela ação do Poder Judiciário. A estrutura política institucional não existe, é claro, apenas para evitar ilegalidades mas, sobretudo, como ressalta o Papa, para incentivar as boas práticas, estimular a criatividade que busca novos e diferentes caminhos e facilitar as iniciativas pessoais e coletivas”, afirmou.

Depois dos pronunciamentos, os chefes das quatro casas da Justiça fluminense, ao lado do reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo, acenderam as luzes que iluminam o Cristo Redentor. Até domingo o monumento estará decorado de vermelho, a cor que representa o Judiciário.

FONTE: TRF-2 | FOTO: Reprodução/TRF-2