O imunologista Michel Sadelain levou o prêmio Breakthrough por seu trabalho pioneiro na terapia com células CAR-T contra câncer.

O imunologista franco-canadense Michel Sadelain venceu o prestigiado prêmio Breakthrough nesta quinta-feira (14) por seu trabalho pioneiro na terapia com células CAR-T – uma nova forma de tratamento que mostrou uma eficácia excepcional contra o câncer.

Essa premiação homenageia “as mentes mais brilhantes do mundo” em campos que incluem física, biologia e matemática, se apresentando como uma resposta apoiada pelo Vale do Silício ao Prêmio Nobel. Entre os fundadores e patrocinadores estão Mark Zuckerberg (CEO da Meta), Priscilla Chan (pediatra, filantropa e esposa de Zuckerberg) e Sergey Brin (co-fundador do Google).

Sadelain dividirá o prêmio de US$ 3 milhões (aproximadamente R$ 15 milhões) com o imunologista estadunidense Carl June, que também liderou pesquisas inovadoras na área independentemente de seu co-vencedor.

Trajetória de Michel Sadelain
Quando o imunologista começou sua busca, que duraria décadas, para modificar geneticamente as células imunes para combater o câncer, seus colegas descartaram suas ideias como absurdas e até sua mãe começou a se preocupar com sua carreira.

Sadelain estudou medicina em Paris, depois imunologia no Canadá, antes de realizar pesquisas de pós-doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em 1989.

Na época, havia grande interesse em desenvolver vacinas para treinar o sistema imunológico a reconhecer e destruir células cancerosas, da mesma forma que pode ser ensinado a combater invasores estrangeiros – por exemplo: vírus e bactérias.

Depois de se mudar para o Memorial Sloan Kettering Cancer Center em Nova York, Sadelain desenvolveu uma maneira de usar um vírus desativado para reprogramar geneticamente as células-T humanas.

Com isso, estruturas semelhantes a garras, chamadas receptores de antígenos, cresceram nas células. Graças a isso, elas passaram a conseguir “mirar” em células cancerosas específicas.

Como o tratamento funciona
Essas células-T com Receptor de Antígeno Quimérico (CAR, na sigla em inglês), como Sadelain as nomeou, se tornaram capazes de reconhecer o câncer no organismo. E receberam instruções genéticas para entrar em modo de destruição e se multiplicar, criando um exército dentro do corpo para eliminar o inimigo.

As próprias células-T dos pacientes são coletadas, modificadas fora do corpo e depois infundidas de volta ao sangue, criando um “medicamento vivo”.

Em um teste contra o mieloma múltiplo, um câncer que se desenvolve em células de plasma, 72% dos pacientes responderam ao tratamento, com desaparecimento total da doença visto em 28%, dos quais 65% tiveram erradicação sustentada por 12 meses.

Graças ao trabalho pioneiro de June e Sadelain, agora existem meia dúzia de terapias com células CAR-T aprovadas nos EUA, com centenas de outros testes em andamento.

 

FONTE: Olhar Digital | FOTO: Rick DeWitt/Wikimedia Commons