
Conselheiros concluíram que os indícios são “muito reveladores” sobre uma possível infração disciplinar atribuída ao magistrado.
O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) decidiu abrir um procedimento administrativo disciplinar e afastar de forma cautelar o juiz do trabalho Marcos Scalercio, acusado de assédio sexual por, ao menos, 96 mulheres, segundo o movimento Me Too Brasil.
Scalercio atua no TRT-2 (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região), em São Paulo. Na decisão desta terça-feira (6), o ministro Luis Felipe Salomão, relator do caso, afirmou que “os indícios são muito relevadores de uma possível infração disciplinar cometida pelo magistrado”. Salomão ainda disse que a apuração traz elementos satisfatórios de que Scalercio teria praticado assédio e importunação sexual em ambiente público e privado.
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O juiz nega as acusações. Em declaração após a divulgação das denúncias, a defesa do magistrado afirmou que ele é “um profissional de reconhecida competência e ilibada conduta pessoal, quer seja no âmbito acadêmico, quer seja no exercício da judicatura”.
Reveladas em agosto, as denúncias foram recebidas pelo Me Too Brasil em parceria com o Projeto Justiceiras, ambas organizações que acolhem mulheres vítimas de violência sexual no país. A decisão do CNJ desta terça acatou um pedido da entidade apresentado no último dia 25 no órgão.
Segundo o Me Too Brasil, as vítimas afirmam terem sido assediadas por Scalercio entre 2014 e 2020. De acordo com os relatos, Scalercio as agarrava e as forçava a beijá-lo recorrentemente. Ainda há seis acusações de estupro, uma relatada à Folha.
Após as primeiras denúncias virem à tona, o juiz solicitou 20 dias de férias. Ao retornar ao trabalho nesta segunda-feira (5), o magistrado foi designado para atuar na 18ª Vara do Fórum Trabalhista da Zona Sul. A decisão foi tomada pela Corregedoria do TRT-2 e, nessa nova atribuição, o magistrado não deve participar de audiências.
A Corregedoria também abriu, na semana passada, uma nova reclamação disciplinar contra Scalercio para apurar mais três denúncias contra ele. Alegando sigilo, o tribunal não informou o teor das novas acusações.
Em 2021, o tribunal chegou a julgar denúncias de três mulheres recebidas contra o juiz. Naquela ocasião, a corregedoria do órgão optou pelo arquivamento, afirmando que não havia provas dos crimes sexuais. Por isso, nenhum procedimento administrativo foi aberto.
Atualmente, o Ministério Público Federal analisa as acusações arquivadas pela Corregedoria do TRT-2.
Luanda Pires, diretora do Me Too Brasil declara que, “diante da quantidade e gravidade dos relatos, inclusive com denúncias de estupro”, espera o caso seja exemplar no combate ao assédio e violência sexual praticada cotidianamente contra as mulheres nos ambientes de trabalho.
“Nossa missão é ajudar sobreviventes a romperem o silêncio e, assim, enfrentar a violência sexual no Brasil”, completa Pires.
FONTE: Folha Online| FOTO: Reprodução