
Rubens Villar Coelho é apontado como chefe do esquema de lavagem de dinheiro do narcotráfico por meio da pesca ilegal no Vale do Javari
A Polícia Federal prendeu Rubens Villar Coelho, conhecido como Colômbia, apontado como chefe do esquema de lavagem de dinheiro do narcotráfico por meio da pesca ilegal no Vale do Javari. Como O GLOBO revelou no mês passado, a PF já investigava Colômbia desde o desaparecimento e mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, em 5 de junho. A informação foi antecipada pelo blog da jornalista Andrea Sadi e confirmada pelo GLOBO por fontes da PF em Tabatinga.
Rubens Villar Coelho apresentou documentos falsos durante depoimento à PF nesta quinta-feira e foi preso em flagrante. Ele teria negado participação nos crimes.
No mês passado, O GLOBO mostrou que apreensões de peixes que seriam usados no esquema foram feitas recentemente por Pereira. As embarcações levavam toneladas de pirarucus, peixe mais valioso no mercado local e exportado para vários países, e de tracajás, espécie de tartaruga considerada uma especiaria e oferecida em restaurante sofisticados dentro e fora do país.
A ação de Bruno contrariou o interesse de “Colômbia”, que tem dupla nacionalidade brasileira e peruana. Ele usa a venda dos animais para lavar o dinheiro da droga produzida no Peru e na Colômbia, que fazem fronteira com a região do Vale do Javari, vendida a facções criminosas no Brasil. Há suspeita de que ele teria ordenado a Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, a colocar a “cabeça de Bruno a leilão”.
Facções estrangeiras
Fontes ouvidas pela reportagem, que não foram identificadas por medo de represálias, afirmam que o esquema criminoso tem a participação de colombianos do Cartel de Cali e peruanos da maior facção do país. Eles atuam com a ajuda de pescadores brasileiros nas comunidades de Ladário, São Gabriel e São Rafael, essa última visitada pela indigenista e o jornalista antes de desaparecerem. Eles haviam marcado um encontro com Churrasco, um líder comunitário que é tio de Pelado mas não foi ao compromisso.
Colômbia teria residência em Benjamim Constant e um flutuante em Islândia, ilha em frente ao município. No depósito, armazenaria pescados e carnes cobiçadas de caça como porco queixada, anta e veado, e o combustível, que vem do Peru, para barcos de pesca. Moradores da região contam que armas de grosso calibre também são guardadas.
Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips iam da comunidade ribeirinha São Rafael até Atalaia do Norte
Entre os brasileiros que trabalham para Colômbia como “linhas de frente” do crime organizado no Vale do Javari, O GLOBO apurou os nomes de Nei, Caboclo, Jâneo, e “Churrasco”, que é tio de Pelado. Jâneo e “Churrasco” foram os primeiros a prestarem depoimento à Polícia Civil um dia após o desaparecimento de Bruno e Dom. Eles são considerados suspeitos de terem participado do ataque à dupla, mas foram liberados após depoimento.
A última apreensão de pesca ilegal foi realizada no dia 24 de março. A equipe recolheu um motor e uma embarcação de Jâneo onde estaria Colômbia, mas os dois foram liberados. A embarcação foi levada para um local próximo da prefeitura de Atalaia, mas foi resgatada durante a noite, na época.
FONTE: OGlobo | FOTO: AFP