
‘Mensagem clara que fica é que eles têm partido político’, diz presidente ao atacar magistrados
O presidente Jair Bolsonaro (PL) subiu o tom dos ataques contra ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) ao dizer nesta quarta-feira (16) que se comportam como “adolescentes”, na contramão da Constituição e que têm um objetivo: querem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de volta ao poder.
“Nós vemos que exatamente alguns do Supremo, a minoria do Supremo, é que age na contramão da nossa Constituição. E ali a mensagem clara que fica é que eles têm partido político. Não querem o Bolsonaro lá e querem o outro, que esteve há pouco tempo no xadrez, no xilindró”, disse o mandatário, em entrevista à Jovem Pan.
Apesar de não ter mencionado neste determinado momento a quem se referia, durante toda a entrevista Bolsonaro atacou três ministros do STF que compartilham a gestão do comando do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) neste ano: Luís Roberto Barroso (atual presidente), Edson Fachin (que passa a comandar a corte na próxima semana) e Alexandre de Moraes (que vai presidir no segundo semestre).
Bolsonaro foi questionado a respeito de uma fala de Fachin, durante reunião de transição do comando do TSE, que presidirá a partir do dia 22. O ministro disse que uma das prioridades da Justiça Eleitoral neste ano será a segurança cibernética, e que a Rússia é um exemplo de procedência desses ataques.
“Imagina se eu tivesse um encontro logo mais no dia de hoje com ele [Vladimir Putin]? Um constrangimento. Então, [os ministros] são pessoas que se comportam como adolescentes, têm um objetivo. Dizer ao Fachin que, se dependesse de mim, eu jamais faria o que ele fez, dando início à anulação do julgamento do sr. ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, afirmou.
Bolsonaro disse que a fala de Fachin era lamentável e “fake news”. “É triste, é constrangedor para mim. Receber acusações como se a Rússia se comportasse como terrorista digital.”
O presidente disse ainda que a preocupação do ministro Fachin com eventuais ataques ao sistema eletrônico “comprova” que ele não tem confiança no sistema eleitoral, e voltou a jogar dúvidas sobre as urnas eletrônicas.
Ele é alvo de dois inquéritos no STF a respeito deste tema. No primeiro, o TSE mandou notícia-crime ao Supremo por conta dos ataques infundados às urnas e o presidente virou alvo do inquérito de fake news.
No segundo, é investigado por divulgar inquérito sigiloso sobre um suposto ataque hacker às urnas eletrônicas, em uma live ao lado do deputado Filipe Barros (PSL-PR).
O presidente citou na entrevista a resposta do TSE ao Exército sobre questionamentos a respeito do sistema eletrônico de votação. O material reforça o que a corte eleitoral vem sustentando nos últimos meses de que as urnas eletrônicas são seguras para rebater falas do presidente sobre a suposta vulnerabilidade dos equipamentos.
“Nos responderam, questão de três dias, aproximadamente, centenas de páginas. O pessoal das Forças Armadas, que pertencem à inteligência cibernética, estão analisando esses documentos. Onde vamos concordar, discordar total ou parcialmente”, afirmou.
O ministro Fachin julgou a vara federal de Curitiba como incompetente e anulou as condenações de Lula na Operação Lava Jato. Hoje o petista é pré-candidato à Presidência da República e está à frente de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto.
As falas do presidente ocorrem em uma viagem em que não há nenhum ministro da ala política, que costumam apelar por moderação. Seu filho, vereador Carlos Bolsonaro (RJ), conhecido por incendiar o entorno do presidente, acompanha Bolsonaro na viagem e na entrevista à Jovem Pan.
Os ataques de Bolsonaro aos ministros do STF ocorre pouco mais de uma semana após Fachin e Moraes irem ao Palácio do Planalto entregar pessoalmente convite para a posse de Fachin na presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no próximo dia 22. O evento será virtual.
FONTE: Folha Online | FOTO: AFP