Carlos Magno Araújo, Especial para Juristec
O economista Ricardo Amorim acredita que, embora ainda haja dúvidas sobre o modelo econômico que será implantado, um eventual governo Bolsonaro é hoje muito mais simpático ao meio empresarial e ao mercado financeiro do que uma nova gestão petista.
A avaliação foi feita pelo consultor numa entrevista exclusiva ao portal Juristec logo após a palestra de abertura da 15ª edição da Fenalaw, considerada a maior feira de negócios jurídicos da América Latina, que começou nesta quarta (24) e prossegue até a sexta (26/10), no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo. Para ele, a forma como este eventual governo Bolsonaro lidar com o chamado Centrão será fundamental para direcionar os rumos econômicos do País.
Segundo o consultor, há uma preocupação muito grande no meio empresarial e ainda mais forte no mercado financeiro com relação ao que seria um eventual novo governo petista. “Isso sob vários aspectos, mas um deles seria uma reversão no processo de combate à corrupção que ocorreu nos últimos anos”. Na opinião de Amorim, apesar de ter custado muito caro ao Brasil, este enfrentamento trouxe avanços institucionais significativos.
Além disso, ele acredita que há entre o empresariado uma preocupação com eventuais políticas econômicas que viriam a ser insustentáveis numa gestão petista e até uma sensação de medo por um possível troco do PT pela sensação de se sentir traído em decorrência do que ocorreu ao longo da Operação Lava Jato, quando vários empresários denunciaram o governo, o que acabou levando ao avanço das investigações e em seguida a diversas prisões.
Em relação a um provável governo Bolsonaro, o mercado, de acordo com Ricardo Amorim, enxerga exatamente o contrário, sobretudo uma esperança em tempos melhores na economia. “O que eu acho é que o mercado hoje parece ter uma crença, que tomara se prove correta, mas a mim me parece exagerada, que o governo Bolsonaro vai seguir efetivamente uma agenda liberal”.
Pessoalmente, o consultor tem dúvidas sobre o rumo porque o Bolsonaro da campanha presidencial, defensor das ideias liberais, é muito diferente do Bolsonaro parlamentar, mais estatizante. “O deputado Bolsonaro não vota como o Bolsonaro candidato prega, pelo menos durantes os últimos 27 anos”.
Outra dúvida levantada pelo consultor em relação aos rumos da economia diz respeito à relação que um eventual governo Bolsonaro terá com o Congresso. “Mesmo que essa mudança para uma agenda liberal seja real, e até desconfio que seja, ele conseguirá aprovar as medidas no Congresso?”, indaga.
Ricardo Amorim considera difícil, sobretudo se Bolsonaro mantiver a promessa de mudar o ‘modus operandi’ do Congresso – ou seja, não cedendo espaços para o chamado Centrão, como é chamado o grupo de parlamentares tido como mais fisiológico. “É que ainda que tenha conseguido eleger uma bancada forte, principalmente no seu partido, o PSL, Bolsonaro vai ter de lidar com o Centrão que, apesar de ter encolhido depois das urnas, ainda responde por 40% do Congresso”.
Sem apoio destes parlamentares acostumados à troca de favores será difícil, na opinião de Amorim, avançar, mas o desafio maior será saber que modelo econômico surgirá depois destas negociações. “Esta eleição trouxe detalhes interessantes e ao mesmo tempo complicados porque embora o segundo turno tenha sido de extremos, com esquerda e direita, o Congresso permaneceu predominantemente com o Centrão”.
Economista ressalta força
do interior e da tecnologia
Antes da entrevista e ao longo de quase uma hora, Ricardo Amorim, que é apresentador de TV, colunista e é apontado pelo Linkedin como o maior influenciador do país, analisou a economia brasileira, apontou as áreas que mais oferecem oportunidades de negócios e defendeu o investimento em tecnologia como fundamental para qualquer segmento que pretenda se desenvolver.
O economista disse que apesar dos anos difíceis e das perspectivas ruins com relação ao Brasil existe uma chance substancial de que a economia surpreenda positivamente nos próximos anos. Ele lembrou que apesar de todas as dificuldades e do momento político conturbado, o PIB brasileiro cresceu, ainda que pouco, nos últimos sete trimestres. “Não dá para ficar pensando na crise, essa já foi, é preciso fazer algo”. Isso significa, nas palavras dele, cada um criar suas próprias oportunidades.
Entre as áreas em que vê novas chances de negócios no setor privado estão a da Saúde e da Educação e as ligadas ao agronegócio – além das relacionadas à tecnologia. Segundo ele, há estudos apontando que, nos próximos dez anos, de 30 a 35 milhões de brasileiros entrarão na chamada classe média – depois de 20 milhões terem saído nos últimos anos – o que significará mais consumo, mais crescimento e mais negócios.
Dentro dessa movimentação, ele considera natural que os setores da Saúde e da Educação sejam logo beneficiados. “Quando as pessoas resolvem o problema mais básico, correm em busca de melhor saúde e educação”. Não é por outra razão, listou Amorim, que hoje áreas como farmácias, laboratórios, universidades e escolas de idiomas estejam se destacando.
O consultor ressaltou ainda o crescimento econômico no interior do país, puxado pelo aumento do agronegócio. Segundo ele, no ano passado e nos outros 15 anos anteriores as duas regiões que mais se destacaram economicamente no Brasil foram a Centro-Oeste, em primeiro lugar, e a Norte, em razão da expansão da fronteira agrícola e dos novos projetos de mineração.
De acordo com ele, o interior continuará puxando a economia porque o Brasil detém 40% de toda a área do mundo que ainda pode ser considerada plantável. E mais: segundo Ricardo Amorim, na China 400 milhões de pessoas saíram do campo para trabalhar nas fábricas, em busca de melhores salários e na India, nos próximos dez anos, serão outros 900 milhões fazendo o mesmo. “Estas pessoas vão precisar comer e a comida deles virá do Brasil”.
O economista defendeu ainda a força dos negócios digitais. Nunca, segundo ele, o mundo gerou tanta riqueza como agora, movida à força da tecnologia. “Nos últimos 15 anos a renda per capita do mundo aumentou mais do que nos últimos 2 mil anos”, comparou.
Disse que o mercado digital permite um ritmo de crescimento e margem que o chamado “mundo do papel” jamais alcançaria, enalteceu o poder da inteligência artificial, que, segundo ele, vai mudar a forma como o direito funciona, e fez um previsão à audiência de sua palestra. “Daqui a cinco anos ninguém nesta sala vai estar trabalhando da mesma maneira que trabalha hoje”.
Aos que reclamam da crise, recomendou que procurem investir na revolução tecnológica, do contrário perderão espaço como os “motoristas de táxis”. Na opinião de Ricardo Amorim, é urgente que cada setor busque usar as vantagens da tecnologia a favor de seu negócio. “Dizem que a crise gera oportunidades, mas a oportunidade quem tem de criar é cada um de vocês, não reclamar ou esperar a crise para poder agir”.
Segundo os organizadores, a Fenalaw 2018 reunirá mais de 4.500 profissionais do setor jurídico ao longo dos três dias do evento. Em oito auditórios ocorrerão doze seminários simultâneos reunindo 270 palestrantes. Nos estandes, serão mais de 60 marcas expositoras.