Defensora afirma que celular foi apreendido; polícia registrou boletim de desacato contra ela

Uma advogada de 25 anos afirma ter sido agredida por um delegado da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Barueri, na Grande São Paulo, nesta quinta-feira (27), quando foi ao distrito buscar uma medida protetiva para uma cliente vítima de violência doméstica.

Ela formalizou a denúncia, na manhã desta sexta-feira (28), na Corregedoria da Polícia Civil.

A advogada, que pediu para não ter o nome divulgado, afirmou à Folha Online que tudo começou no último dia 21, quando uma cliente tentou, sem sucesso, registrar um boletim de ocorrência de violência doméstica na DDM. Um pedido de medida restritiva também teria sido negado na ocasião.

No caso defendido pela advogada, sua cliente, de 38 anos, afirma ser vítima de violência doméstica, sendo impedida de acessar suas contas bancárias e de autorizar a entrada de pessoas no condomínio onde mora, pois seu companheiro teria orientado os porteiros do local para isso.

Ela foi casada por 12 anos com o suspeito, que teria “surtado” ao receber um documento de divórcio, no dia 21. Segundo registrado pela polícia, o homem só não agrediu fisicamente a vítima porque o funcionário do escritório de advocacia, que portava o papel do divórcio, impediu.

Na quarta (26), a advogada foi com a cliente ao distrito com o objetivo de formalizar um boletim de ocorrência e solicitar a medida de proteção à vítima.

A defensora diz que os policiais a atenderam sem atenção na ocasião, tentando desestimular o registro do caso.

Em uma das tentativas para formalizar o crime, a advogada entra na sala de um delegado, para falar sobre o caso da cliente, gravando em vídeo a conversa, com seu celular.

O policial não deixa a advogada falar, segundo o registro, e sugere falar com a vítima. Mas a defensora argumenta que não quer deixar a cliente passar por uma situação ruim novamente.

De repente, o delegado ordena para que a advogada saia da sala, mas quem sai do local é ele, fechando a porta e deixando a defensora sozinha no recinto. O policial vai até a vítima, que está desacompanhada, sentada em um banco de espera em um corredor.

A advogada se aproxima empunhando o celular e, ao ver que está sendo filmado, o delegado argumenta que a advogada não está sendo profissional. Ele é referendado por outra delegada da DDM, que aparece no registro de vídeo posteriormente.

Quando são questionados pela advogada sobre terem afirmado que, somente em caso de morte, fariam a medida protetiva, ambos os policiais negam.

Após mais de quatro horas de espera, a advogada afirmou ter conseguido registrar o boletim de ocorrência e formalizar o pedido de medida protetiva. No dia seguinte, ela precisou retornar ao distrito para pegar o documento que garante a segurança da vítima.

A defensora afirmou à Folha que os dois delegados que aparecem no vídeo de quarta a esperavam com o documento, em uma sala.

Antes de entregá-lo, ela disse que os policiais a ofenderam ao comentar a forma como se veste, com salto alto e vestido.

A advogada afirmou que os policiais teriam mencionado sobre o vídeo que ela fez na quarta, em que o delegado não dá ouvidos à defensora.

Ao perceberem que ela gravava a conversa, o delegado, segundo ela, partiu para cima dela, apertando seu braço. Fotos encaminhadas à reportagem mostram dois hematomas e arranhões em um dos braços dela. Ela diz ter chegado a chorar de dor.

Após alguns instantes, a advogada disse ainda que seu celular caiu, por causa da suposta investida do delegado, e foi pego e apreendido pelos policiais da delegacia especializada. Nele, segundo a advogada, estão os vídeos das supostas agressões sofridas na quinta-feira.

A defensora afirma ter sido mantida na DDM até por volta das 20h de quinta, não podendo, com isso, ir ao Instituto Médico-Legal realizar exame de corpo de delito. Na manhã desta sexta, as marcas dos apertões já estavam mais amenas, acrescentou. No período da tarde, ela se submeteu à perícia.

FONTE: Folha Online | FOTO: Arquivo Pessoal