
Durante sessão da 1ª turma do STF nesta terça-feira, 6, ministro Flávio Dino refletiu sobre os rumos da democracia contemporânea.
S. Exa. afirmou que os filósofos da Grécia Antiga ficariam perplexos diante dos contornos assumidos pelo regime democrático na atualidade, marcado por disputas virtuais incessantes e um estado permanente de conflito.
A observação foi feita durante o julgamento que tornou réus os acusados pertencentes ao chamado Núcleo 4, envolvidos na tentativa de golpe de Estado em 2023.
Dino evocou a imagem clássica da ágora – o espaço público da Grécia Antiga onde os cidadãos se reuniam para deliberar sobre os destinos da pólis.
Em sua visão, os avanços tecnológicos e a virtualização do debate político distorceram profundamente esse ideal ancestral, convertendo-o em algo radicalmente novo – e, por vezes, perigoso.
“Aristóteles e os gregos, de modo geral, teriam pesadelos se soubessem que a democracia antiga resultaria nisso”, afirmou o ministro, alertando para os rumos imprevisíveis que a sociedade contemporânea vem trilhando.
Segundo Dino, “a democracia dos modernos incorporou traços da dos antigos, mas os conduziu por um caminho inimaginável”.
Esse “caminho inimaginável” seria, nas palavras de Dino, uma ágora virtual permanente, onde o debate público não conhece intervalos, as eleições parecem não ter fim e os palanques nunca são desmontados.
O ministro ressaltou que um dos princípios tradicionais da política ocidental era a existência de espaços de distensão entre os ciclos eleitorais – o que permitia a avaliação serena dos governos com base em seus mandatos, e não apenas sob a pressão da disputa. Essa lógica, no entanto, teria sido subvertida no cenário atual.
“Estamos em 2025, apreciando os acontecimentos de 2022 e, em breve, todos nós, querendo ou não, seremos tragados pelo debate eleitoral de 2026”, advertiu.
Democracia apresentativa
Em resposta ao ministro Flávio Dino, ministra Cármen Lúcia afirmou que a democracia atual precisa ser repensada e ganhar novos contornos.
Segundo a ministra, a sociedade, impulsionada pela tecnologia, já transita por um novo modelo de participação democrática – mais direto, contínuo e virtual.
“O cidadão não quer mais se fazer representar, ele quer se apresentar”, afirmou, apontando para o surgimento de uma “democracia apresentativa”, que dispensa intermediários tradicionais e desafia a capacidade de resposta das instituições.
FONTE: Migalhas | FOTO: Lula Marques/Agência Brasil