
Inovação no Direito: como a tecnologia está transformando a prática jurídica e o atendimento aos clientes nos escritórios de advocacia.
A adoção de tecnologia está varrendo o setor jurídico, sem dar sinais de desaceleração. Em 2025, escritórios de advocacia que desejam se manter competitivos precisarão estar atentos às principais tendências em tecnologia jurídica (legal tech). Do aprimoramento do relacionamento com clientes à proteção de dados, as inovações tecnológicas prometem redefinir a forma como advogados trabalham e entregam valor. A seguir, exploramos oito tendências emergentes que devem impactar significativamente a advocacia neste ano – e por que os profissionais do Direito no Brasil devem ficar de olho nelas.
1. Foco na experiência do cliente e serviços jurídicos orientados por tecnologia
Os clientes modernos esperam um nível de serviço semelhante ao de outros setores, e isso inclui comodidade, rapidez e transparência. Por isso, os escritórios estão colocando experiência do cliente no centro de sua estratégia, apoiando-se em ferramentas tecnológicas para aprimorar o atendimento. Isso significa investir em portais online onde os clientes possam acompanhar o andamento de seus casos em tempo real, utilizar canais digitais de comunicação (como aplicativos ou chats) e oferecer recursos como assinaturas eletrônicas e consultas por videoconferência. Ao adotar soluções digitais, advogados conseguem responder dúvidas com mais agilidade, manter os clientes informados 24 horas por dia e criar uma interação mais personalizada. No contexto brasileiro, em que a confiança e o boca-a-boca ainda são fundamentais, um atendimento eficiente e apoiado pela tecnologia pode diferenciar um escritório no mercado.
2. Evolução dos modelos de precificação dos serviços jurídicos
A forma tradicional de cobrar honorários – geralmente baseada no número de horas trabalhadas – está sendo repensada. Em 2025, deveremos ver uma evolução nos modelos de precificação adotados pelos escritórios de advocacia, buscando atender à demanda dos clientes por mais previsibilidade e melhor custo-benefício. Modelos inovadores, como assinaturas mensais de serviços jurídicos ou precificação baseada em valor (quando o pagamento é atrelado aos resultados ou ao valor percebido do serviço), estão ganhando espaço. Por exemplo, em vez de cobrar por hora para elaborar contratos e prestar consultoria contínua, um advogado pode oferecer um pacote mensal fixo cobrindo determinado número de consultas ou peças jurídicas. Esse tipo de abordagem, já vista em mercados mais maduros, começa a chamar atenção também no Brasil – especialmente entre escritórios empresariais e startups jurídicas (lawtechs) que buscam se diferenciar. O resultado é um relacionamento mais transparente com o cliente, que sabe antecipadamente quanto pagará, e uma pressão saudável por maior eficiência nos serviços prestados.
3. Computação em nuvem, trabalho remoto e serviços jurídicos sem fronteiras
A pandemia impulsionou definitivamente o trabalho remoto no meio jurídico, e a computação em nuvem se tornou a espinha dorsal dessa nova forma de operar. Nos últimos anos, a adoção de soluções em nuvem por escritórios de advocacia atingiu cerca de 70%, de acordo com a American Bar Association (ABA), permitindo que advogados acessem documentos e sistemas de qualquer lugar. Essa infraestrutura na nuvem, aliada a ferramentas de videoconferência e colaboração online, viabiliza equipes distribuídas geograficamente e amplia o alcance dos serviços jurídicos para além das fronteiras tradicionais.
Em outras palavras, a advocacia torna-se cada vez mais globalizada: um escritório em São Paulo pode atender clientes em outros estados ou países, coordenar fusões internacionais ou colaborar com colegas estrangeiros sem sair do escritório (ou de casa). No Brasil, vimos audiências e julgamentos virtuais se tornarem rotina, provando que muitas atividades jurídicas podem ser realizadas remotamente. Essa tendência de serviços jurídicos sem fronteiras abre oportunidades para escritórios brasileiros atuarem internacionalmente e, ao mesmo tempo, traz desafios quanto a fusos horários, diferenças regulatórias entre jurisdições e à necessidade de domínio de ferramentas digitais por toda a equipe.
4. Análise de dados jurídicos e decisões orientadas por dados
Outra tendência marcante é o uso crescente de analytics e análise de dados no Direito – o que muitos chamam de jurimetria. Escritórios de advocacia estão descobrindo o valor de extrair insights de grandes volumes de dados jurídicos para embasar estratégias e tomadas de decisão. Isso inclui desde analisar precedentes e jurisprudência para prever a probabilidade de sucesso de uma ação, até examinar dados internos (como o tempo médio de duração de casos ou o desempenho de advogados) para otimizar as operações. Ao adotar uma postura de decisão orientada por dados, os gestores jurídicos conseguem, por exemplo, identificar quais tipos de ações trazem melhor retorno financeiro ou quais fatores influenciam determinados resultados judiciais. Ferramentas de jurimetria já permitem, inclusive, estimar a tendência de certas cortes ou juízes com base em decisões passadas, ajudando advogados a moldar seus argumentos de forma mais assertiva. No cenário brasileiro, em que tribunais superiores disponibilizam bases de dados volumosas e acessíveis, há um terreno fértil para esse tipo de análise – e alguns escritórios pioneiros já utilizam painéis e relatórios estatísticos para planejar suas estratégias com maior precisão.
5. Automação de tarefas jurídicas rotineiras
Muitas tarefas repetitivas consumiam horas preciosas dos profissionais do Direito – mas isso está mudando rapidamente graças à automação. Em 2025, a automação de tarefas jurídicas rotineiras estará ainda mais presente no dia a dia dos escritórios. Atividades como preencher formulários padrão, gerar minutas de contratos simples, organizar documentos de um processo ou fazer triagens iniciais de novos casos podem ser realizadas por softwares especializados, robôs de processo (RPA) ou fluxos de trabalho automatizados.
Por exemplo, já existem sistemas que vasculham milhares de páginas em busca de informações relevantes para uma ação (facilitando fases de auditoria jurídica ou discovery), assim como plataformas que montam petições básicas a partir de modelos predefinidos, com poucos cliques. Ao automatizar o que é repetitivo, os escritórios reduzem erros humanos e ganham eficiência; advogados podem concentrar seu tempo em atividades estratégicas, como análises jurídicas aprofundadas, elaboração de teses e atendimento personalizado ao cliente. No Brasil, onde muitos escritórios lidam com alto volume de processos (especialmente em áreas como direito do consumidor, trabalhista ou fiscal), a automação vem se mostrando uma aliada valiosa para gerenciar contenciosos de massa com agilidade e precisão.
6. Integração da Inteligência Artificial na prática jurídica
Após anos de discussão, a Inteligência Artificial (IA) finalmente está se integrando de forma concreta às atividades jurídicas. Diferentemente de tempos atrás, quando IA no Direito era uma promessa incipiente, em 2025 vemos uma incorporação real em diversas frentes da advocacia. Isso inclui assistentes virtuais capazes de responder perguntas de clientes ou auxiliar advogados em pesquisas jurisprudenciais, plataformas de revisão contratual que usam aprendizado de máquina para identificar cláusulas de risco, e até ferramentas de redação automática de documentos utilizando IA generativa. A grande diferença agora é a integração da IA aos fluxos de trabalho: em vez de ser um recurso isolado, a inteligência artificial passa a estar embutida nos softwares jurídicos que os escritórios já utilizam. Por exemplo, um sistema de gerenciamento de casos pode vir equipado com uma função de IA que sugere prazos ou tarefas automaticamente com base nas informações do processo, ou que resume os pontos-chave de um acórdão recém-publicado, economizando tempo de leitura.
No Brasil, já vemos movimentos nesse sentido – escritórios de ponta e departamentos jurídicos de empresas estão testando soluções de IA para ganhar velocidade e insights em suas tarefas. É claro que a adoção da IA traz desafios, como treinar as equipes para usá-la corretamente e zelar pela confiabilidade e ética no uso dessas ferramentas. Ainda assim, a tendência de fundo é clara: a IA está se tornando uma colega de trabalho do advogado, e não apenas um conceito teórico.
7. IA nas Fusões e Aquisições (M&A)
Um dos campos específicos do Direito que mais deve se beneficiar da tecnologia é o de Fusões e Aquisições (M&A). Nessas operações complexas – que envolvem a análise de inúmeros contratos, demonstrativos financeiros e outros documentos durante a due diligence – o uso de IA desponta como um divisor de águas. Ferramentas de inteligência artificial podem revisar em minutos centenas de documentos que uma equipe levaria dias para analisar manualmente, identificando cláusulas problemáticas, riscos ocultos e inconsistências em contratos societários ou relatórios financeiros. Em 2025, espera-se que a IA em processos de M&A seja cada vez mais comum, agilizando essas diligências legais e tornando-as mais precisas.
Além da fase de auditoria prévia, algoritmos inteligentes podem auxiliar na avaliação estratégica de empresas-alvo, projetando cenários de mercado ou apontando sinergias e riscos regulatórios de uma fusão, com base em dados setoriais. Para escritórios brasileiros que atuam em operações internacionais ou lidam com um volume elevado de transações, adotar IA no M&A significa ganhar vantagem competitiva: negociações mais rápidas, detecção precoce de potenciais problemas e até apoio na elaboração de contratos mais consistentes. Em suma, a tecnologia garante que advogados e clientes tomem decisões melhor informadas em negócios complexos, reduzindo surpresas indesejadas no caminho.
8. Cibersegurança e proteção de dados como prioridade
Por fim, à medida que os escritórios de advocacia se tornam mais digitais, cresce exponencialmente a importância da cibersegurança e da proteção de dados. Informações confidenciais de clientes – contratos, segredos comerciais, dados pessoais sensíveis – agora circulam por e-mail, plataformas em nuvem e sistemas online, o que torna os escritórios alvos atrativos para ataques cibernéticos. Nos últimos anos, incidentes de vazamento de dados e golpes de ransomware envolvendo escritórios de advocacia ganharam destaque, evidenciando os riscos.
Em 2025, os escritórios estão investindo como nunca em medidas de segurança da informação: criptografia de comunicações, autenticação multifator para acesso aos sistemas, backup (cópias de segurança) robusto e treinamento dos funcionários em boas práticas digitais. Além de proteger os dados por uma questão de ética e reputação, há também a necessidade de cumprir rigorosamente as leis de privacidade e proteção de dados, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil e regulamentos equivalentes em outros países. Essas normas impõem obrigações claras sobre como as informações devem ser armazenadas, utilizadas e resguardadas, sob risco de multas e sanções severas. Portanto, a gestão de tecnologia nos escritórios hoje passa necessariamente pela gestão do risco digital: assegurar que a inovação venha acompanhada de salvaguardas, políticas internas de compliance e preparo para responder rapidamente a eventuais incidentes de segurança. Não basta adotar novas ferramentas – é preciso garantir que elas sejam usadas de forma segura e responsável.
Os exemplos acima indicam que o mundo jurídico está em plena transformação. Escritórios de advocacia e profissionais do Direito, no Brasil e no exterior, têm diante de si o desafio – e a oportunidade – de reinventar práticas tradicionais por meio da inovação. Abraçar a tecnologia não significa abdicar dos princípios éticos ou da qualidade técnica, mas sim potencializar a eficiência, a qualidade e o alcance dos serviços jurídicos. Do atendimento mais atento às necessidades do cliente à tomada de decisões baseada em dados concretos, a incorporação dessas tendências pode diferenciar os profissionais em um mercado cada vez mais competitivo. Em última análise, o recado é claro: inovar é preciso. Aqueles que se dispuserem a experimentar novas ferramentas e abordagens tecnológicas terão mais condições de prosperar na advocacia do futuro, enquanto os resistentes à mudança correm o risco de ficar para trás. A revolução da tecnologia jurídica já está em curso – e 2025 promete ser um ano decisivo para separar os meros espectadores dos protagonistas dessa nova era no Direito.
FONTE: Artigo original “Eight Legal Tech Trends Set To Impact Law Firms In 2025”, de Daniel Farrar – Forbes (03/02/2025). | FOTO: Getty Images