
Para os fundadores Tiago Santos e Mauricio Carvalho, aumentar o salário da equipe foi a realização de um sonho que começou junto com o negócio
“Deu barulho, mas não foi uma decisão difícil de tomar pra gente”, reflete Tiago Santos, CEO da fintech Husky, sobre o anúncio de que a empresa vai adotar um piso salarial de 7.000 reais para toda a equipe.
O executivo e seu cofundador, o CTO Mauricio Carvalho, contam para a EXAME que o movimento era um desejo quase tão antigo quanto a fintech fundada há seis anos.
Os dois resolveram abrir o negócio para facilitar a burocracia de receber pagamentos no exterior após ambos trabalharem remotamente para a empresa americana Must Have Menus, dedicada a tecnologias como QR Code capazes de facilitar a digitalização de cardápios de restaurantes. Vendo as complicações de receber o salário de fora e em outro câmbio, eles encontraram uma oportunidade de negócio.
Segundo os fundadores, o salário dos funcionários sempre foi pauta de suas reuniões. Santos conta que começar a trabalhar para a empresa estrangeira e ganhar em dólar foi o momento de virada em sua vida, em 2014.
“Foi o momento que mudou minha vida financeira. Até então eu trabalhava para pagar meus boletos. Nessa virada, o aumento da cotação do dólar me ajudou a pagar o apartamento, fazer uma reforma, trocar um piso. Nada de outro mundo, coisas básicas. Mas as pessoas sofrem bastante por coisas básicas”, afirma Santos.
E os dois viam que isso poderia ser a realidade para os seus funcionários também. Segundo pesquisa do Dieese, o salário-mínimo do Brasil em 2022 deveria ser de 5997,14 reais. Apenas 5% dos brasileiros recebem mais de 7.000 reais, de acordo com o levantamento da empresa que ajudou a chegar à quantia.
Para o CTO, não é possível que a fintech sozinha resolve o problema do Brasil, mas ele espera que consigam ser justos com a equipe.
A partir do mês de março, 40% dos funcionários teve um reajuste automático nos salários para a nova base. No total, eles calcularam que isso gera um impacto de apenas 6% no orçamento para folha de pagamento.
Para executar esse plano antigo, Carvalho conta que o maior obstáculo era, em suas palavras, “tirar a empresa do buraco”. Desde o início, a fintech funciona com o próprio caixa, sem a entrada de investidores.
“Quando percebemos que não íamos quebrar mais, foi há dois anos. Tivemos quatro anos de perrengue, tentando sobreviver. Há dois anos, com essa segurança, a gente já vinha aumentando a remuneração. A notícia agora é mais o fim dessa história”, diz o CTO.
Assim, a primeira equipe a ficar sabendo da novidade foi a financeira. Afinal, o ajuste de 6% ainda precisava ser aprovado – e passou sem problemas.
“Eles receberam com alegria que era isso que íamos fazer com o caixa. Quem ficou mais incrédulo foi o RH. Acho que ficaram preocupados com o financeiro…”, diz Carvalho.
Atualmente a empresa tem 30 funcionários e uma projeção de dobrar o tamanho da equipe em 2022. A ideia deles é criar um ambiente horizontal e de alta performance, mas que os funcionários trabalhem com segurança financeira.
Com mão de obra de tecnologia, uma das mais demandadas pelo mercado, ele aponta o contraste entre funcionários que ganham em torno de 30.000 e 40.000 reais e dos que ganham entre 3.000 e 5.000 reais.
“E a pessoa não trabalha menos, só escolheu uma profissão diferente. Queremos dar um reconhecimento mínimo para todos aqui”, afirma o CTO.
Na média salarial de mercado, um profissional da área de atendimento tem salário entre 2.500 e 4.000 reais. Porém, essas são as pessoas que ouvem os problemas dos clientes e levam novas ideias para que as áreas de tecnologia possam construir soluções.
“A gente veio de origem humilde, sabe como é diferente ter um pouco mais de dinheiro e poder evoluir na carreira”, diz o CEO.
FONTE: Exame | FOTO: Divulgação